A Conferência de Yalta (ou Ialta) foi uma reunião realizada antes do final da Segunda Guerra Mundial (de 4 a 11 de fevereiro de 1945) entre Joseph Stalin, Winston Churchill e Franklin D. Roosevelt.
Na época, eles eram os respectivos chefes de governo da União Soviética, do Reino Unido e dos Estados Unidos.
A reunião entre os líderes das maiores potências do mundo teve lugar no antigo palácio imperial de Livadia, em Yalta, na Crimeia (Ucrânia), hoje uma região ocupada pela Rússia.
Tal conferência é vista por grande parte dos historiadores como o início da Guerra Fria, cuja tensão geopolítica só teve fim em 1991, com a dissolução da União Soviética.
Reuniões do pós-Segunda Guerra
A conferência de Yalta foi a continuação de uma série de reuniões que começaram com a conferência de Moscou, em agosto de 1942, sediada no Kremlin.
Em suma, ela foi sucedida pela conferência de Casablanca, em janeiro de 1943, a conferência do Cairo, de 22 a 26 de novembro de 1943 e com a conferência de Teerã, entre 28 de novembro e 1 de dezembro de 1943.
Os acordos firmados à época eram controversos mesmo antes da reunião de Potsdam, que definiu os rumos do pós-guerra.
Após a morte de Roosevelt, Churchill e Stalin foram acusados de não terem aceitado o controle internacional sobre os países libertados pela União Soviética (URSS).
Além disso, nenhum outro governo foi consultado ou notificado das decisões tomadas em Yalta.
Decisões da conferência de Yalta
Em síntese, o acordo oficial estipulou:
- A declaração de libertação da Europa, ou seja, de que os países do continente não precisavam mais continuar em estado de guerra, permitindo eleições democráticas em todos os territórios libertados.
- A realização de uma conferência em São Francisco (EUA) para organizar as Nações Unidas (ONU).
- Foi concebida a ideia de um Conselho de Segurança, e foi acordado que o regime soviético ucraniano e o bielorrusso teriam assentos independentes na ONU.
- Em contrapartida, a questão dos crimes de guerra foi adiada.
- As decisões sobre as fronteiras da Itália com a Iugoslávia e a Áustria foram adiadas, bem como as relativas às relações entre a Iugoslávia e a Bulgária e outras questões.
Futuro da Alemanha
Analogamente, foi aprovado o desarmamento, desmilitarização e divisão da Alemanha, vista pelas três potências como um “requisito para a paz e segurança futuras”.
Assim, o país germânico ficaria dividido em quatro zonas, uma para cada potência aliada (EUA, Reino Unido e França) e outra para a União Soviética.
Também foi definida uma compensação a ser paga pela Alemanha pelas “perdas que ela causou às nações aliadas no decorrer da guerra”.
Essas indenizações poderiam vir da riqueza nacional (máquinas, navios, ações em empresas alemãs, etc.), do fornecimento de bens por um período a ser determinado ou do uso de mão de obra alemã.
Os americanos e soviéticos concordaram com uma cifra de 20 bilhões de dólares de indenização, enquanto os britânicos não acreditaram que fosse possível chegar a um valor definitivo.
Além disso, o controle sobre um terço da Alemanha foi cedido à União Soviética: Turíngia, Saxônia, Mecklenburg, Brandenburg e Antepomerania.
Por fim, foi acordado transferir grande parte da população de origem alemã da Polônia, Hungria e Tchecoslováquia para as terras da Alemanha Ocidental.
Em relação ao futuro da Alemanha, a conferência foi extremamente ambígua.
Os Aliados apenas se comprometeram com o referido desarmamento, desmilitarização e divisão, permitindo assim as mudanças futuras e dando rédea solta a cada uma das partes para o interpretar a seu gosto.
No entanto, a Alemanha foi dividida em quatro ‘setores’, um para cada país Aliado vencedor, para evitar um novo ressurgimento do movimento nazista.
Na Alemanha, sob o conselho Aliado, nasceu o novo órgão das Nações Unidas, que substituiria a antiga Liga das Nações, a atual Organização das Nações Unidas (ONU).
Futuro da Polônia e Iugoslávia
Em síntese, foi acordado que a Polônia teria um “Governo Provisório de Unidade Nacional” que prepararia eleições livres o mais rapidamente possível, com base no sufrágio universal e voto secreto.
No entanto, logo a primeira eleição foi fraudada e amplamente forjada. Além disso, a Polônia perdeu suas terras orientais para a União Soviética.
Foi acordado recompensar a Polônia com terras que haviam sido alemãs por séculos: a região de Lebus, a Pomerânia ocidental, a Prússia Oriental, a Silésia, bem como a cidade livre de Danzig.
O controle da Polônia foi cedido à União Soviética por décadas até a independência do país. Já no caso da Iugoslávia, foi realizado um acordo que uniria os governos monárquico e comunista. O acordo perdurou até 1992.
Pano de fundo da Conferência de Yalta
O presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, havia feito acordos previamente com o primeiro-ministro britânico, Sir Winston Churchill, em Valeta.
Roosevelt chegou a Malta em 2 de fevereiro de 1945 , a bordo do USS Quincy (CA-71). Tanto Churchill quanto o embaixador britânico Anthony Eden tentaram discutir sua posição política em relação a Stalin em Yalta, mas foram frustrados em todas as suas tentativas.
Churchill e Roosevelt viajaram para Yalta em um C-54 Skymaster. Esta foi a primeira vez que Roosevelt viajou de avião e, desta vez, ele usou um C-54 especialmente remodelado para seu uso.
Cerca de setecentas pessoas acompanharam os líderes ocidentais, a bordo de vinte aeronaves Skymasters e cinco Avro Yorks. Os aviões tiveram que seguir uma longa rota até a Crimeia, para evitar Creta, ocupada pelos alemães.
Roosevelt e Churchill foram recebidos na Crimeia pelo comissário estrangeiro Viacheslav Molotov, o embaixador americano Averell Harriman e o secretário de Estado Edward Stettinius, Jr.
O presidente estadunidense ficou no palácio de Livadia. Este palácio foi saqueado pelos alemães durante a guerra.
Os soviéticos tiveram que remodelá-lo usando móveis e pinturas de um hotel de luxo de Moscou. Stalin ficou no Palácio Yusupov e Churchill no Palácio Vorontsov.
Preparação para a conferência de Yalta
Na manhã de 4 de fevereiro de 1945, Roosevelt se reuniu com seus líderes militares, em preparação para a Conferência.
Além disso, ele também se reuniu com funcionários do Departamento de Estado, incluindo Alger Hiss. No início da Guerra Fria, Hiss foi acusado e condenado por ser um espião soviético.
Ele também foi acusado de ter convencido Roosevelt a fazer as concessões solicitadas por Stalin em Yalta, mas não há evidência disso. Esses funcionários determinaram que os principais pontos a serem tratados pelos Estados Unidos seriam:
- O futuro da Polônia e a recusa em reconhecer o governo comunista de Lublin (uma província da Polônia);
- A criação das Nações Unidas;
- O futuro da Alemanha;
- A melhora das relações entre o Kuomintang (partido que até hoje governa Taiwan) e o Partido Comunista da China.
Stalin chegou à Crimeia naquela manhã de trem e visitou pela primeira vez Churchill, a quem expressou sua crença na derrota alemã, reforçada pelo conhecimento de que Hitler havia removido vários generais renomados.
Então, acompanhado por Molotov, ele visitou Roosevelt, que expressou sua indignação com o grau de destruição causado pela guerra na Crimeia.
Papel da França na Guerra
Em resumo, Stalin e Roosevelt também falaram sobre o papel da França na guerra e no período pós-guerra. O ditador soviético chamou Charles de Gaulle, o presidente francês, de pessoa “irreal”.
Isso porque ele exigia direitos iguais da União Soviética, dos Estados Unidos e do Reino Unido, visto que, segundo Stalin, a França havia feito muito pouco na guerra.
Roosevelt também não gostava de De Gaulle e, para entreter o líder soviético, confessou que, na conferência do Cairo, o general francês se comparou a Joana d’Arc.
Stalin respondeu informando-o de que de Gaulle planejava estacionar tropas permanentemente no rio Reno. Roosevelt e Stalin concordaram em dar à França uma zona de ocupação, mas apenas por “gentileza”.
Assim, por quase cinco décadas, a Alemanha ficou dividida em quatro zonas político-administrativas.
Em conclusão, a Conferência de Yalta preparou terreno para o pós-Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e a corrida armamentista entre os Estados Unidos e a União Soviética.
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Fontes: Toda Matéria, Educa Mais Brasil, DW, BBC Brasil