Durante o período colonial, o Brasil viveu períodos de disputas políticas e econômicas envolvendo lideranças das capitanias. A Guerra dos Mascates, por exemplo, foi um conflito armado ocorrido na Capitania de Pernambuco, entre os senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, chamados de “mascates”.
O conflito aconteceu entre 1709 e 1714 e foi motivado por disputas políticas e econômicas na região de Pernambuco. Diferente de outros conflitos, como a Inconfidência Mineira, a guerra entre os senhores de engenho e os mascates não tinha intuito separatista. Ou seja, o objetivo do conflito não era separar a região da metrópole e sim, uma disputa para decidir o controle da região.
Dessa forma, a guerra foi fortemente influenciada pela expulsão dos holandeses do Brasil. Isso porque, depois que os holandeses invadiram o litoral de Pernambuco, a economia baseada na cana-de-açúcar era a principal renda dos senhores de engenho. Após a expulsão das tropas holandesas, a região entrou em crise, já que o açúcar começou a ser produzido nas Antilhas. Ou seja, havia ali a concorrência do produto no mercado internacional.
Mas antes de tudo, vamos entender o contexto histórico e as causas que levaram a Guerra dos Mascates!
Contexto histórico
Os holandeses invadiram o Brasil, em 1624, com o objetivo de controlar a economia açucareira que crescia no Brasil. A primeira invasão ocorreu em Salvador, mas, após um ano, os holandeses foram expulsos da região. Não satisfeitos com a situação, elaboraram uma nova invasão. Dessa vez, o alvo foi o litoral de Pernambuco, invadido em 1630.
Nesse sentido, a Holanda se estabeleceu nas vilas de Recife e Olinda. Além disso, também dominaram as regiões de Sergipe até o Maranhão. A região dominada pelos holandeses ficou conhecida como Brasil-holandês. Na época da invasão, Portugal estava sob domínio da Espanha. Porém, em 1640, Portugal recupera a força e, como consequência, decide recuperar também o litoral pernambucano dominado pelos holandeses.
D. João IV era o rei de Portugal, após o fim do domínio Espanhol. O rei, furioso com o domínio espanhol na colônia portuguesa, começa a elaborar estratégias para expulsar a Holanda do Brasil. Porém, a expulsão definitiva só ocorreu em 1654, com a Insurreição Pernambucana. Dessa forma, após o conflito, os senhores de engenho – que dependiam do capital holandês – ficaram desamparados economicamente.
Para piorar a situação, os holandeses expulsos do Brasil iniciaram a produção de açúcar nas Antilhas. Ou seja, além da crise econômica enfrentada pelos senhores de engenho, eles ainda sofreram com a concorrência no mercado internacional. Com isso, a crise econômica se agravou mais ainda com o preço do açúcar sendo cada vez mais desvalorizado no país e no exterior.
Portanto, Olinda – local onde estavam concentrados os senhores de engenho – entrou em declínio econômico por conta da expulsão dos holandeses. Além disso, a região ainda se recuperava dos desastres causados pela expulsão da Holanda. Por outro lado, Recife – local onde se concentrava o melhor porto da colônia – enriqueceu e se tornou um importante centro comercial.
Causas da Guerra dos Mascates
Uma das principais causas do conflito foi a disputa por poder entre Olinda e Recife. Isso porque, Olinda era detentora do poder político na região, enquanto Recife controla o comércio. Ou seja, as duas regiões da Capitania de Pernambuco disputava para ver quem controlaria as decisões da capitania.
Os mascates – grupo formado, em sua maioria, por comerciantes portugueses – pegavam, constantemente, empréstimos com os senhores de engenho de Olinda. Na época, Olinda emprestava o capital com altas taxas de juros. Porém, devido às crises que assolavam a capitania, os mascates atrasavam os pagamentos e deixavam os olindenses enfurecidos.
Outro fator que desencadeou a guerra foi a crise que Olinda enfrentava por conta da expulsão dos holandeses. Ou seja, após a expulsão, a região ficou totalmente desolada e impossibilitada de desenvolver algum tipo de comércio. Por outro lado, Recife crescia comercialmente por conta do maior porto da colônia localizado na região.
Portanto, de um lado Olinda sofria com a baixa econômica e os empréstimos feitos para tentar reerguer as propriedades de açúcar. Do outro, Recife se enriquecia com o comércio crescente proporcionado pelo porto. Como o preço do açúcar estava em queda no mercado internacional, os senhores de engenho não conseguiam pagar as dividas dos empréstimos.
Autonomia de Recife
Para piorar a situação de Olinda, em 1703, os comerciantes portugueses de Recife conseguiram autonomia política em relação à Olinda. Isso foi possível porque a região ocupou lugar de representação na Câmara de Olinda. Dessa forma, por meio da Carta Régia de 1709, Recife se tornou uma vila independente.
No mesmo ano, a sede da Câmara Municipal e o Pelourinho passaram a ser sede na região de Recife. A decisão colocava os recifenses ainda mais independentes de Olinda. Nesse sentido, os olindenses começaram a temer que Recife se tornasse, além de centro comercial, o centro das principais decisões políticas. Olinda, sem saída, decide se rebelar contra o poderia econômico e, possível, poderio político de Recife.
O conflito
Revoltados com o crescimento de Recife, Olinda elaborou uma estratégia para dominar de forma política a Capitania de Pernambuco. Além disso, os olindenses almejam o mesmo tratamento que a coroa portuguesa dava a Recife. Outra reivindicação de Olinda era que Recife, ao invés de vila, fosse rebaixado para um simples povoado.
Dessa forma, em 1710, os senhores de engenho de Olinda invadiram a região de Recife para destruir o Pelourinho. As tropas eram comandadas Bernardo Vieira de Melo e Pedro Ribeira da Silva, que alegavam total direito na invasão por conta das fronteiras desrespeitadas entre Recife e Olinda. Como forma de revidar a invasão, Recife invadiu Olinda em 1711.
Por fim, como forma de apaziguar o conflito entre os senhores de engenho e os comerciantes portugueses, a coroa portuguesa mandou ao Brasil Félix José de Mendonça. Com isso, Félix se tonou governador da Capitania de Pernambuco e colocou fim ao conflito entre Olinda e Recife. Portanto, a Guerra dos Mascates foi oficialmente finalizada em 1712.
Consequências da Guerra dos Mascates
Uma das consequências do conflito entre os comerciantes e os senhores de engenho foi a prisão dos envolvidos na guerra. A prisão foi uma determinação do governador Félix José, nomeado para colocar fim ao conflito na Capitania de Pernambuco.
Além disso, os comerciantes portugueses foram favorecidos com a decisão da coroa portuguesa em estabelecer Recife como cidade e capital de Pernambuco. Na época, a decisão de Portugal só aumentou a rivalidade entre os comerciantes e senhores de engenho, pois estava evidente a preferência da coroa em relação à qual região era a favorita.
Nesse sentido, o governador Félix José determinou que, para não haver mais conflitos, a capital de Pernambuco seria alternada entre Olinda e Recife de forma semestral. Por fim, em 1714, o rei D. João V concedeu aos presos que participaram do conflito a anistia pelos seus atos. A única condição foi que Olinda e Recife não causasse nenhum tipo de conflito.
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Fontes: Brasil Escola, Só História e Toda Matéria
Imagens: Tumbral, Zona Curva, Tok de História, Escola Educação, Blog do Faroleiro, Reddit,