Embora muito se fale sobre a Inconfidência Mineira, uma conspiração de natureza separatista que marcou a história do Brasil em 1789, é importante conhecer a rebelião que muitos historiadores consideram embrionária para esse levante. Ocorrida em 1720, a Revolta de Filipe dos Santos abriu as portas para Tiradentes e cia.
Após o período das Grandes Navegações, os países europeus passaram a investir na colonização intercontinental. Como resultado disso, as colônias foram divididas de acordo com suas finalidades, sendo elas de exploração (a maioria dos países da América Latina) ou de povoamento (como é o caso dos Estados Unidos).
Também conhecida como Revolta de Vila Rica, o movimento que teve como palco a região das Minas Gerais, gerou bastante repercussão no Brasil Colônia no século XVIII, durante o período do Ciclo do Ouro.
Apesar de levar o nome de Filipe dos Santos, esse levante contou com a participação de aproximadamente duas mil pessoas. Todas elas, insatisfeitas com os termos exploratórios da Coroa Portuguesa sobre o Brasil, se uniram para exigir melhorias.
Contexto histórico
Ao passo que o território brasileiro era repleto de riquezas naturais, Portugal investiu em diferentes dinâmicas de exploração sobre sua colônia. Todavia, durante os séculos XVII e XVIII, a principal atividade econômica no Brasil era a mineração. Responsável por gerar grande lucro para a metrópole, a extração de minérios foi foco de conflitos.
Sendo assim, a região das Minas Gerais – como o próprio nome sugere – era o polo das atividades mineradoras. Consequentemente, a área também foi cenário de diversos episódios de indignação e revolta da população contra a Coroa Portuguesa.
Antecedendo a Inconfidência Mineira e a própria Revolta de Filipe dos Santos, houve a Guerra dos Emboabas. O conflito protagonizado por paulistas e estrangeiros, em 1707, foi motivado pelo controle de exploração das jazidas recém-descobertas em Minas Gerais. Porém, mal sabiam eles que logo surgiria um inimigo em comum: Portugal.
Acontece que a riqueza gerada pela mineração acabou promovendo uma radicalização da fiscalização portuguesa. Embora houvesse donos de minas independentes da metrópole, a Coroa seguia administrando a colônia e atribuindo elevadas tributações sobre o ouro. Como resultado disso, a população se revoltou.
Causas da Revolta de Filipe dos Santos
Diante dos altos tributos, muitos donos de minas contrabandeavam o ouro. Porém, como forma de impedir essas atividades ilegais, a Coroa Portuguesa tomou providências. Assim, visando contornar o contrabando do ouro em pó, a metrópole instalou quatro Casas de Fundição nas Minas Gerais.
Isso significava que, a partir daquele momento, todo ouro deveria ser fundido e transformado em barras. Além disso, essas barras deveriam ser marcadas com o selo do Reino. O ouro só poderia ser comercializado se levasse o selo real. Aliás, ao longo desse processo, a cada cinco barras, uma ficava para a Coroa Portuguesa.
Sem o lucro do contrabando do ouro em pó e pagando impostos exorbitantes, os donos das minas se organizaram para manifestar sua insatisfação. Logo, a primeira iniciativa do grupo foi atacar as Casas de Fundição, que funcionavam como centros de cobrança e controle sobre os minérios extraídos.
Ademais, outro importante fator que contribuiu para a Revolta de Filipe dos Santos foi o Pacto Colonial. Em suma, essa política exigia exclusividade comercial entre colônia e metrópole. Logo, esse monopólio obrigava os colonos a comprarem produtos fornecidos por Portugal a um preço nada justo.
Quem foi Felipe dos Santos e como funcionou a revolta?
Responsável por dar nome à revolta deste artigo, Felipe dos Santos Freire foi um rico fazendeiro e tropeiro. Através de seus discursos e ideias, Felipe dos Santos acabou se tornando uma personalidade nas Minas Gerais e atraindo a atenção das camadas mais populares e da classe média urbana de Vila Rica.
Assim como a maioria dos donos de minas, Felipe dos Santos defendia o fim das Casas de Fundição e a diminuição da fiscalização metropolitana. Então, juntamente com uma multidão de cerca de duas mil pessoas, o tropeiro iniciou uma revolta que durou quase um mês.
Os colonos rebeldes chegaram a pegar em armas para ocupar Vila Rica. Dessa forma, com a tensão chegando a um ponto extremo, os manifestantes arrombaram a casa do Ouvidor-Mor. Em seguida, eles seguiram até Vila do Carmo para exigir do Governador, o Conde de Assumar, o fim das Casas de Fundição e a diminuição das taxas comerciais.
Diante daquela tensão, o Governador da região negociou com os revoltosos. Assim, solicitando que abandonassem as armas, o Conde de Assumar prometeu atender todas as exigências feitas. Após a negociação, o grupo liderado por Filipe dos Santos retornou à Vila Rica à espera das ações do Governador.
Consequências do movimento
Apesar do sentimento de vitória por parte dos revoltosos, a promessa do Governador não passou de uma estratégia para ganhar tempo. Assim que as tropas portuguesas foram reunidas, o movimento foi reprimido, casas foram incendiadas e vários mineiros foram deportados para Lisboa e outros presos, dentre eles, Felipe dos Santos.
Todavia, visto que Felipe dos Santos liderou a tropa que demoliu as Casas de Fundição, ele foi considerado líder do movimento. Como consequência disso, ele foi condenado à morte. Assim, a revolta acabou levando o nome do mártir que foi enforcado e esquartejado. Isso te parece familiar?
Enfim, após conter a Revolta de Filipe dos Santos, a Coroa Portuguesa desmembrou a região de Minas Gerais da capitania de São Paulo. Assim, o controle sobre a região contou com um significativo aumento que, anos mais tarde, acabaria originando outra rebelião, a Inconfidência Mineira.
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Fontes: Brasil Escola, Mundo Educação, Só História.
Imagens: RS Notícias, Sociedade Mineradora, Link Escolar, José Márcio Castro Alves, Portal do Rancho.