Conhecida como a revolta do “homem que não quis ser rei”, a Aclamação de Amador Bueno é um evento significativo, porém pouco explorado, na história do Brasil. Ocorrido no ano de 1641, esse levante é considerado a primeira insurgência a contestar o poder da Coroa Portuguesa na colônia brasileira.
Ao passo que União Ibérica foi responsável por uma série de mudanças características no Brasil Colônia, a Coroa Portuguesa encontrou obstáculos ao tentar reconquistar sua hegemonia. Ademais, nesse intervalo de sessenta anos, a configuração comercial da colônia foi reformulada pela Espanha.
Logo, quando a Casa de Bragança reassumiu o controle e realizou alterações que afetariam a economia brasileira, um grupo de bandeirantes se rebelou. Como principal forma de protesto, os rebeldes assumiram uma posição separatista na tentativa de preservar os interesses conquistados durante a América espanhola.
Embora buscasse assegurar o controle político regional, a Aclamação de Amador Bueno acabou tendo um rápido fim. No entanto, essa manifestação não deixou de ser conhecida como o período em que São Paulo quase teve um rei.
Contexto histórico
Durante a União Ibérica, a dominação espanhola resultou no fim do Tratado de Tordesilhas e em uma crise no abastecimento de escravos africanos em terras brasileiras. Consequentemente, houve uma ascensão dos bandeirantes no interior da colônia.
Como forma de contornar a escassez de mão-de-obra africana, passou-se a comercializar e explorar os indígenas encontrados pelo interior do Brasil. Sendo assim, uma nova atividade econômica foi estabelecida. Além disso, os bandeirantes paulistas constituíram outra rota de comercialização de índios na região do Rio da Prata.
Essa nova rota buscou atender a demanda por escravos dos colonizadores espanhóis e, dessa forma, os bandeirantes ampliaram seus negócios, conquistando um promissor mercado consumidor de mão-de-obra indígena. Essa rede de negócios se estendeu ao longo dos séculos XVI e XVII e só teve fim com a retomada portuguesa do poder.
Assim como era de se esperar, a interferência da Coroa Portuguesa na questão da escravização indígena não foi bem recebida pelos colonos. Logo, houve a tentativa de aclamação de Amador Bueno como rei de São Paulo.
Principal causa da revolta
Visto que, durante a União Ibérica, Portugal saiu economicamente enfraquecido, em 1640, a Coroa buscou retomar seu poder. Então, uma das primeiras iniciativas da Casa de Bragança foi a proibição da escravização dos índios. Através desse decreto, a Coroa Portuguesa buscava ampliar seus lucros com o comércio de escravos africanos.
Assim, forçados a comprar a mão-de-obra disponibilizada pela administração colonial portuguesa, os colonos ficaram insatisfeitos. Além disso, vale ressaltar que a Casa de Bragança possuía uma frágil relação com seus súditos tanto na metrópole quanto na colônia.
Sendo assim, os espanhóis que viviam na região de São Paulo passaram a requerer a permanência do local sob a tutela castelhana. Contudo, essa intenção foi ocultada pela sugestão de independência e de que São Paulo elegesse um rei.
A aclamação de Amador Bueno
Como forma de protestar contra a restauração portuguesa, um grupo de bandeirantes paulistas se armou e organizou uma represália. Inicialmente eles expulsaram os padres jesuítas, também contrários à escravidão indígena, da Vila de São Paulo. Em seguida, foram até a casa de Amador Bueno e o declararam rei, algo que ele negou de imediato.
Além de pertencer à classe dos bandeirantes, Amador Bueno de Ribeira era filho de um espanhol de Sevilha com uma brasileira descendente de indígenas. Antes de sua compulsória aclamação como rei, ele foi capitão-mor e ouvidor da Capitania de São Vicente. Além disso, ele era proprietário de terras e tinha vários índios escravizados.
Em conjunto, todas essas características contribuíram para que Amador Bueno fosse declarado “um homem bom”, de acordo com os padrões socioculturais da época. Portanto, os bandeirantes paulistas decidiram elevá-lo à posição de governante de São Paulo.
No entanto, temendo pela sua vida e por algum tipo de represália de Portugal, Amador Bueno rejeitou sua aclamação. Além de não aderir ao movimento dos bandeirantes, Bueno ainda jurou fidelidade à Coroa. Dessa forma, o movimento dos bandeirantes paulistas perdeu seu principal pilar de sustentação.
Consequências da aclamação de Amador Bueno
Após a refuta de Amador Bueno, a restauração portuguesa gradativamente ganhou força. Consequentemente, a América Espanhola passou a enfraquecer. Além disso, como resultado da Aclamação de Amador Bueno, os paulistas ganharam a fama de maus vassalos, possuidores de um ímpeto autonomista e uma tendência à rebeldia.
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Fontes: Brasil Escola, Mundo Educação, História UFF, TAB.
Imagens: Guia do Estudante, Beduka, Las2orillas, Roberto Aniche Filatelia, Aventuras na História.