O Tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que se desenvolveu entre os anos de 1968 e 1969. Este movimento marcou profundamente várias formas de expressão artística e foi uma maneira de questionar o contexto social conturbado da época.
Também conhecido como Tropicália, o movimento sofreu intensa perseguição política e censura pela Ditadura Militar brasileira. No entanto, os artistas resistiram e encontraram formas de driblar a censura.
Uma das principais características do período foi a busca redescobrir os valores, os símbolos nacionais esquecidos, os temas negligenciados e afins. Dentre os muitos artistas que se destacaram neste período, podemos citar Gilberto Gil e Caetano Veloso, que foram os dois principais representantes do movimento.
Contexto histórico do surgimento do Tropicalismo
O Tropicalismo nasceu em meio a um crescente espírito de contestação, que surgiu em um cenário de Guerra Fria, com as ameaças de armas de destruição em massa, conflitos armados e tensões militares.
Depois que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) chegou ao fim, as ideias relacionadas à modernidade, tais como: desenvolvimento, racionalidade, progresso e afins, passaram a ser questionadas. Esse questionamento tem como base os resultados que os conflitos da 1ª metade do século XX trouxeram.
Por exemplo, na filosofia autores como Michel Foucault, Jacques Derrida, Frantz Fanon, Guy Debord, Gilles Deleuze e Herbert Marcuse, ganharam destaque no detalhe político ao criticarem o processo civilizatório, a modernidade, a sociedade do consumo, as instituições e etc.
Esses alvos de crítica eram foco de intensos debates intelectuais em várias partes do mundo e envolvia não apenas os filósofos, como também os artistas.
Inclusive, surgiram vários movimentos artísticos em diferentes partes do mundo, que tinham como intuito o debate político e de contestação dos pressupostos modernos. Alguns exemplos de expressão desse movimento artístico e político de contestação, foram:
- Primavera de Praga, na então Tchecoslováquia;
- o Maio de 68, na França;
- os movimentos de independência, na África;
- a Nouvelle Vague, na França;
- Cinema Marginal, no Brasil;
- o Neorrealismo italiano.
O próprio Tropicalismo foi uma expressão desse movimento de contestação, mas de uma forma mais ampla, englobando vários tipos de expressões artísticas.
Repressões
O contexto histórico do período era composto ainda por repressões políticas e autoritarismo em vários países. Por exemplo, no Brasil, ocorreu o Golpe Militar, em 1964, que no final da década endureceu o controle sobre o que podia ou não ser publicado no país.
Nesse contexto de repressão, os artistas e militantes tiveram que driblar a censura, para conseguirem se expressar e irem contra o sistema. O artifício da alegoria foi muito usado para comportar as visões críticas sobre a realidade política do Brasil e contornar a censura.
Por fim, esse cenário era composto ainda pelo desenvolvimento da Indústria Cultural e da introdução dos televisores e rádio, que contribuíram para ampliar o consumo de massa.
Em meio a este cenário, o Tropicalismo surgiu como um marco na história da arte do Brasil, trazendo discussões políticas e estéticas, além de resgatar debates e abordagens artísticas que tiveram início na Semana de Arte Moderna de 1922.
Quais eram os objetivos do movimento?
A Tropicália não tinha uma unidade objetiva. No entanto, uma das suas principais características é a tentativa de reinterpretar o Brasil, de redescobrir os valores, símbolos nacionais esquecidos, temas negligenciados e afins.
Além disso, existia uma ideia de atualização, de incorporar elementos de fora e devolver ao exterior uma versão genuinamente brasileira.
Por exemplo, em 1967 ocorreu uma Manifestação Contra a Guitarra Elétrica, onde integrantes da MPB questionam o uso desse instrumento. Isso porque a guitarra era um símbolo estrangeiro que, de certa maneira, maculava a originalidade da música brasileira.
O nome Tropicália nasceu da obra de Hélio Oiticica intitulada Tropicália montada, em 1967 em uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Posteriormente, Caetano Veloso escreveu uma música também intitulada Tropicália, o que foi outro marco para o movimento.
Quais eram os principais artistas e obras do Tropicalismo?
As músicas desenvolvidas pelos tropicalistas influenciaram, sobretudo, os jovens que viviam num conturbado momento histórico. Sendo assim, elas foram importantes para a revolução da cultura brasileira de forma geral. Algumas das principais foram:
1. Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
Alegria, Alegria foi uma das músicas mais marcantes do movimento. Ela foi apresentada no terceiro Festival de MPB da TV Record, em 1967. Ela é caracterizada pelas críticas aos intelectuais de esquerda e ao momento histórico do Brasil.
2. Aquele abraço (Gilberto Gil)
A música Aquele Abraço foi criada em homenagem à cidade do Rio de Janeiro, o que significa que ela tem aspectos culturais que são referência da cidade. Portanto, essa música guarda registros de um Rio de Janeiro repleto de otimismo, sendo que a cidade foi palco da música popular brasileira por muitos anos.
3. Panis et circenses (Caetano Veloso e Gilberto Gil cantada por Os Mutantes)
O Brasil passava por momentos conturbados durante a ditadura. Uma das políticas que surgiram foi a do pão e circo. Desse modo, a música Panis et circenses faz referência à essa política que consistia na distração do povo pela comida e pelo entretenimento.
4. Geleia Geral (Torquato Neto e Gilberto Gil)
A música Geleia Geral foi uma canção-manifesto do Tropicalismo e tem elementos característicos do movimento, além de várias representações culturais da literatura, por exemplo.
5. Lindonéia (Caetano Veloso e Gilberto Gil)
A música Lindonéia foi criada a partir do desaparecimento de uma Lindonéia no subúrbio. Desse modo, a história se transformou em música como forma de protesto pelo desaparecimento.
6- Mais canções
Por fim, além das músicas acima, outras canções marcaram o movimento foram:
- Coração materno (Vicente Celestino)
- Miserere nobis (Gilberto Gil)
- Parque industrial (Tom Zé)
- Enquanto seu lobo não vem (Caetano Veloso)
- Mamãe, Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto).
Como foi o fim do movimento?
A Tropicália teve um grande impacto na música brasileira, mas depois que a repressão da Ditadura Militar se tornou mais acirrada com a promulgação do Ato Institucional nº 5, em 1968. Em resumo, com o AI 5, as perseguições políticas aumentaram e a tensão no país cresceu.
Depois de se apresentarem em uma boate do Rio de Janeiro ao lado de Os Mutantes, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos no dia 22 de dezembro de 1969 e depois disso, eles foram exilados. Como os dois eram os principais representantes do movimento, o exílio deles marcou o fim da Tropicália.
Fontes: Toda Matéria, Mundo educação, Educação UOL, Mundo Educação e, por fim, História do Brasil
