O preconceito linguístico é o juízo de valor negativo dado à forma de falar de indivíduos que discursam em um mesmo idioma.
Por ser denominada preconceito, este tipo de aversão parte da impressão subjetiva de uma pessoa em relação a outra, ou em relação a um grupo de falantes da mesma língua.
Sendo assim, este preconceito está associado às diferentes formas de se discursar em um mesmo idioma. O preconceito linguístico desconsidera as variações regionais, assim como os dialetos, gírias, vícios de fala, sotaques e maneirismos que compõem o vocabulário de uma pessoa.
Além disso, o preconceito linguístico é consequência de processos históricos e sociopolíticos, mas este é considerado um tipo de preconceito comum e normalizado.
Isso acontece porque o preconceito linguístico ocorre principalmente pela correção e por brincadeiras direcionadas à interlocução de um indivíduo.
Preconceito x discriminação
Para entender melhor este fenômeno, é necessário compreender a diferença entre preconceito e discriminação.
De acordo com o sociolinguista Marcos Bagno, autor do livro ‘Preconceito linguístico: o que é e como fazer’, o preconceito é uma atitude subjetiva, como ver uma questão que não te agrada e mantê-la na individualidade. Por outro lado, a discriminação é a prática do preconceito, quando se transforma a percepção subjetiva em ação.
Desse modo, pode-se dizer que o preconceito linguístico atua paralelamente com a discriminação linguística. Isso ocorre porque há casos em que a aversão se transforma em ação. Por exemplo, quando a pessoa brinca com a forma com que alguém fala.
Origem do preconceito linguístico
Segundo Laudiceia Santana de Andrade da Silva, Mestranda em Letras na UERJ, sugere-se que a origem do preconceito linguístico pode ter acontecido no uso da própria língua.
Para a autora, o preconceito linguístico pode ter surgido a partir da interação verbal entre indivíduos na sociedade. Além disso, está associado com a falsa concepção de que a língua deve equivaler exatamente à gramática normativa.
Já para Marcos Bagno, este tipo de preconceito está intimamente ligado a outros tipos de preconceito presentes na sociedade, atingindo principalmente as minorias sociais.
Entre eles, o socioeconômico, regional e cultural, mas também o racismo e a homofobia.
Norma padrão e norma coloquial
No debate sobre preconceito linguístico, é necessário pontuar a diferença existente entre as formas de se falar o português no Brasil, são elas a norma padrão e a norma coloquial.
Nesse sentido, a norma padrão é essencialmente voltada para a normatividade da língua escrita. É aquela ensinada nas escolas como um ‘modelo’ de idioma que pode ser compreendido por todo o país.
Já a norma coloquial refere-se à linguagem informal, natural ou popular utilizada no cotidiano. Nela, não existe total atenção à gramática e permite maior fluidez, principalmente por estar voltada à comunicação oral.
A problemática do preconceito linguístico começa quando define-se a norma padrão como superior ou mais correta em detrimento da outra, estabelecendo o que Pereira e Martins definem como variante de maior prestígio por ser a norma que, em geral, grupos de maior poder aquisitivo dominam.
Preconceito linguístico no Brasil
O Brasil é considerado um país de dimensão continental, com mais de oito milhões de quilômetros quadrados fazendo deste o maior território da América Latina.
A linguagem sofre variações e adaptações culturais em um processo natural de socialização. Principalmente em um país com colonização de diferentes povos e a migração, tanto forçada quanto voluntária, de cidadãos de diferentes partes do globo.
A língua materna do Brasil é a língua portuguesa. No entanto, de acordo com o levantamento do Censo Demográfico de 2010, do IBGE, existem cerca de 274 idiomas exercidos por indígenas de 305 etnias diferentes. Essa quantia inclui os idiomas mortos, aqueles que se perdem com o tempo, e os ativos atualmente.
Neste sentido, o conceito de língua materna e idioma oficial tangencia as diferentes variações e os dialetos envolvidos no desenvolvimento do idioma.
De acordo com Marcos Bagno, o preconceito linguístico surge como uma ferramenta de manutenção das discriminações sociais e do interesse das elites. Nesse sentido, a linguagem age como uma espécie de arame farpado que isola um grupo minoritário sobre a premissa do ‘maior prestígio’.
Considerada uma forma de desvalorizar a diversidade cultural no país, o preconceito linguístico também desconsidera o processo evolutivo natural dos idiomas. Além disso, essa forma de aversão parte do pressuposto de que há somente uma forma de se comunicar uma mesma língua.
Aprendeu mais sobre preconceito linguístico? Então, leia esse texto Preconceito, o que é? Definição, características e principais tipos.
Fontes: Plataforma do Letramento | EducaMais Brasil | Glossário CEALE | Toda Matéria | Educação Pública | Brasil Escola | Estratégia Concursos | Português É Legal
Imagens: Pexels | Blog do Toninho | Ivan Cabral | Redação Online | Diário Missões