Se você já estudou Sociologia, provavelmente se deparou com conceitos como mais-valia, alienação, mudança social e luta de classe. Todos esses conceitos foram criados por Karl Marx para designar a relação existente entre as partes que compõem o processo capitalista de produção das mercadorias.
Anteriormente ao desenvolvimento da indústria nas grandes cidades, o trabalhador adquiria seus meios de subsistência por meio da própria produção individual no campo. Todavia, a Revolução Industrial alterou profundamente os processos econômicos e introduziu o sistema capitalista, baseado na obtenção do lucro e na exploração da mão de obra local.
Conheça abaixo mais detalhes sobre como funciona o processo de mais-valia e seus tipos, assim como a aplicação do conceito de alienação.
Entenda o processo de mais-valia
O desenvolvimento das grandes cidades, impulsionado pelo surgimento das indústrias e por uma maior oferta de trabalho, provocou um sentimento de esperança nos camponeses atraídos pelas oportunidades que apareciam no ambiente urbano.
Sendo assim, havia o entendimento de que o trabalho norteava a vida do homem e o aproximava do restante do mundo. Contudo, essa visão não era inteiramente compartilhada pelo sociólogo Karl Marx, um dos teóricos mais conhecidos e autor da obra O Capital.
Segundo a sua teoria, o capitalismo consistia na existência de uma relação desigual entre o proletário, isto é, trabalhador que vende sua mão-de-obra em troca de um salário específico, e o dono do negócio.
A mais-valia, portanto, seria a obtenção do “lucro” por parte do capitalista em cima da força de trabalho não remunerada desempenhada pelo operário.
Nesse sentido, o trabalho desempenhado pelo empregado, por si só, já possui um valor agregado, calculado com base na quantia direcionada aos serviços básicos de sobrevivência como aluguel, alimentação e transporte.
Logo, o produto possui um certo valor de custo inicial investido pelo dono da produção, que deseja adquirir lucros em cima dessa quantia. Contudo, esse valor não pode ser repassado ao público-alvo devido a fatores como o preço tabela de mercado.
Sendo assim, essa produção extra é cobrada em cima da força de trabalho do empregado, que acabava recebendo bem menos do que realmente valia os seus serviços. Por outro lado, o trabalhador seria obrigado a se submeter às regras do sistema, cumprindo geralmente mais de uma função em troca do salário que iria receber.
Tais diferenças resultam na produção e no acirramento das desigualdades sociais, beneficiando sempre os donos da produção.
A mais-valia explicada através de exemplo
Em primeiro lugar, digamos que um empregado realize as funções de limpar, organizar o estoque, cuidar do caixa e vender certa mercadoria. Todavia, ele foi contratado apenas para exercer a função de vendedor. Provavelmente, o mesmo recebia somente pelo serviço que foi contratado e não pelos três que assumiu a mais.
Desse modo, o empregador acaba lucrando em cima da força de trabalho do empregado, adquirindo o valor extra produzido. Ademais, ele evitaria a contratação de mais funcionários ao permitir que o proletário assuma responsabilidades que não lhe pertenciam.
Em outras palavras, se o trabalhador desempenhasse suas funções em 30 horas semanais, com obrigação de trabalhar 40, a produção monetária das 10 horas restantes ficariam restritas ao dono do negócio, o que caracteriza o conceito de mais-valia.
Tipos de mais-valia
A mais-valia, defendida por Marx na obra O Capital (1974), ainda pode ser dividida em dois tipos.
O mais comum, explicado acima, é denominado mais-valia absoluta, que constitui o valor a mais trabalhado pelo operário e que é desembolsado em forma de lucro pelo dono do negócio. Tal condição acirra as desigualdades que separam os mais ricos dos mais pobres.
Em segundo lugar, está a mais-valia relativa, mais atual. Nesse sentido, a mão-de-obra humana é substituída pela máquina, que acaba por desempenhar funções antes atribuídas ao trabalhador. Em contrapartida, não há aumento de salário e nem diminuição da jornada de trabalho, mesmo com o aumento do lucro e da produção.
Junto a isso, ocorre também o risco de, futuramente, o espaço destinado à mão-de-obra humana diminuir drasticamente, a ponto de aumentar ainda mais o número de desempregados e provocar uma onda de desmotivação por parte dos trabalhadores.
De acordo com pesquisas, até 2030, a estimativa é que cerca de 16 milhões de trabalhadores sejam afetados pela perda de espaço para robôs, sobretudo nas áreas empresarial e administrativa.
O que é Alienação, de acordo com Marx?
Junto à mais-valia, está presente o conceito da alienação, que defende a desumanização do trabalhador através da escravização, marcado pela retenção dos direitos trabalhistas.
Embora não existisse um conceito sólido de luta operária nos séculos XVIII e XIX, que resultaria na garantia desses direitos, é importante situar essa definição também nos tempos atuais.
Ainda hoje, é possível notar que boa parte das classes mais vulneráveis ainda se submete a condições degradantes de trabalho, impostas por uma jornada excessiva, pelo não cumprimento dos direitos previstos em lei e por outros fatores.
Contudo, o conceito de alienação está além disso. Nessas condições, o operário, muitas vezes, já não percebe que está sendo explorado e acaba produzindo mercadorias que nem sequer terá a chance de usar.
Logo, um operário que trabalha em uma indústria automobilística de ponta dificilmente terá condições, com seu salário, de adquirir o carro que ele mesmo produz.
É esse cenário presente na alienação que acaba por reiterar o papel do proletariado como peça explorada pelo sistema.
Se você gostou do tema, continue com a gente e aproveite para conferir quais são as fases do capitalismo.
Fontes: Mundo Educação, Toda Matéria, Politize, Brasil Escola, Brasil News
Imagens: Luís Ricardo, Estudo Prático, Revista Zunai, Brasil News, Rádio Peão Brasil, Toda Matéria.