Segundo Shakespeare, há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Nascido a partir do momento em que o homem se deparou com um desafio e ousou questioná-lo, esse pensamento organizado, conceitual, crítico e reflexivo acompanha o caminhar da humanidade. Mas, afinal, o que é filosofia?
Criado por Pitágoras de Samos, o termo reúne as palavras gregas philia (amor ou amizade) e sophia (sabedoria). Logo, philosophia é o amor pelo saber. Embora conte com uma uma tradição que remonta a 2600 ou 5000 anos, pouco sabe-se sobre a filosofia e poucos ousam defini-la.
Sendo assim, “o que é filosofia?” é um tópico que vem protagonizando séculos de debate e o tipo de pergunta que conta com várias respostas e, ao mesmo tempo, nenhuma. Alguns a definem como um mecanismo de compreensão do mundo, outros dizem que filosofia é o pensar sobre o próprio pensar.
No entanto, diante dessa formulação e reformulação de conceitos, há uma resposta genérica. De acordo com a mesma, filosofia é um ramo do saber que procura entender os conceitos ou essências de tudo que existe no mundo. Como resultado disso, esses conceitos movimentam problemáticas que atuam para a constante manutenção da filosofia.
A origem da filosofia
Muitos dizem que a filosofia surgiu em um momento de crise. Apesar de não ser especificado quem foi o pioneiro nessa epifania e nem onde, como ou quando isso aconteceu, a Grécia é considerada o berço da filosofia ocidental. Ademais, Aristóteles classificou Tales de Mileto como o primeiro filósofo, e assim ele ficou conhecido.
Contudo, apesar da importância dos gregos nessa empreitada reflexiva, historiadores não deixam de frisar que povos de outras culturas, como egípcios, hindus e chineses já eram produtores de conhecimento e senso crítico. Então, os gregos não criaram algo inédito, já que as reflexões de Tales nasceram de seu contato com esses povos.
Além disso, o budismo e o taoísmo, que existem a mais tempo do que se tem conhecimento, já haviam formado pensamentos filosóficos. Logo, a Grécia tem sim uma grande importância na filosofia, mas sua associação à ela deve ser adotada com ressalvas.
Seu objeto de estudo e aplicabilidade
Sêneca chegou a afirmar que a filosofia ensina a agir, não a falar e, embora ela sirva como ponte para a evolução das técnicas. Em suma, não existe uma aplicabilidade prática para a filosofia, o que leva muitas pessoas a considerarem-na uma ciência inútil.
Contudo, mesmo sem uma utilidade prática, a filosofia não deixa de ser um ramo de saber autônomo e emancipatório. Além disso, ela é crucial para a formação do indivíduo e sua percepção de si mesmo e do mundo. Inclusive, seu objeto de estudo varia:
- Pré-socrática: o objeto de estudo era o universo e a natureza, o que originou a Cosmologia;
- Socrática: o objeto de estudo eram as consequências das atividades humanas no mundo, como a política, o conhecimento e a justiça, o que resultou no olhar para dentro de si mesmo;
- Helenista: a filosofia era tida como uma prática de vida para alcançar a plenitude e a felicidade;
- Patrística ou medieval: associou a filosofia ao cristianismo, onde ela ficou submetida à teologia. A sabedoria infinita era restrita à deus, que havia permitido que o ser humano fosse racional;
- Escolástica: manteve o pensamento cristão mas voltou seu olhar para a natureza;
- Moderna: passaram a problematizar as ciências e a forma como o ser humano a refletia, aprimoraram certas características dos gregos;
- Contemporânea: vigente do século XIX ao atual, utiliza a filosofia para refletir questões sobre sua época, implicações que vão desde a ética na vida até a linguagem, modo de interação com as novas tecnologias, poder político, etc.
Ademais, a filosofia depende do pensamento desenvolvido e, por isso, possui uma gama de correntes. Só para ilustrar, a filosofia pode variar entre: cristã, política, ontológica, cosmológica, ética, empírica, metafísica, epistemológica, etc.
Afinal, o que é filosofia?
Ao escreverem seu livro intitulado “O que é Filosofia?”, os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari afirmaram que filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos, se tornando uma área do conhecimento que forma e reformula perspectivas sobre o mundo.
Isso significa que a filosofia é, por natureza, problematizadora e não aceita qualquer verdade sem antes questioná-la e analisá-la. “O que é?”, “por que é?” e “como é?” constituem uma teia de conceitos que move o trabalho do filósofo e a pergunta “o que é filosofia?” já é uma atitude filosófica.
Portanto, pode-se concluir apenas que a filosofia lida com conceitos concretos e abstratos que tem têm um prazo de existência definido, desdobra-se sobre si mesma a fim de criar novos problemas para uma melhor compreensão do mundo e não aceita verdades absolutas.
No fim das contas, segue sendo impossível responder o que é filosofia, já que é essa pergunta – e muitas outras – que move a própria. No máximo, é possível apresentar algumas perspectivas, nenhuma delas sendo definitiva, e deixar a subjetividade individual decidir qual delas é mais aplicável ou não.
E então, o que achou da matéria? Se gostou, confira também: O que é fé? Definição e significado para ciência, religião e filosofia.
Fontes: História do Mundo, Brasil Escola, Toda Matéria, Mundo Educação.
Imagens: Giammarco Boscaro, Miltiadis Fragkidis, Zoom, Escritório de Hoje.