O Hamas é uma organização política, paramilitar e fundamentalista islâmica sunita da Palestina que atualmente governa a Faixa de Gaza.
Seu nome advém do árabe حماس, Hamas, um acrónimo de (harakat al-Muqāwamah al-‘Islāmiyyah), ou Movimento de Resistência Islâmica. A organização mantém uma ala de serviço social, conhecida como Dawah, e uma ala militar, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
Basicamente, o grupo político foi criado com o intuito de libertar a Palestina da ocupação israelense e transformar o país em um estado islâmico. Sendo assim, e quando foi criada, a organização política defendia na carta original do movimento, travar uma luta armada para, literalmente, destruir o estado de Israel.
História do Hamas
As origens do Hamas podem ser rastreadas até a fundação da Irmandade Muçulmana no Egito, em 1928.
A Irmandade Muçulmana surgiu como uma tentativa de fazer com que os valores islâmicos se estendessem além da mesquita para a esfera secular, onde desafiava os pressupostos fundamentais, sociais, políticos, ideológicos, nacionalistas e econômicos da ordem dominante existente.
Logo depois, em 1935, a irmandade estabeleceu contatos na Palestina e em 1945 inaugurou sua primeira filial em Jerusalém.
Quando Israel ocupou os territórios palestinos em 1967, os membros da Irmandade Muçulmana não participaram ativamente da resistência, preferindo focar na reforma sócio e religiosa e na restauração dos valores islâmicos.
Entretanto, essa perspectiva mudou no início dos anos 1980 e as organizações islâmicas se tornaram mais envolvidas na política palestina.
Igualmente, a força motriz por trás dessa transformação foi Ahmed Yassin, um refugiado palestino de Al-Jura.
De origem humilde e tetraplégico, ele perseverou para se tornar um dos líderes da Irmandade Muçulmana em Gaza. Seu carisma e convicção trouxeram-lhe um grupo leal de seguidores.
Criar o Hamas como uma entidade distinta da Irmandade Muçulmana era uma questão de praticidade; a Irmandade Muçulmana recusou-se a praticar violência contra Israel, mas sem participar da intifada, os islâmicos ligados a ela temiam perder o apoio a seus rivais da Jihad Islâmica Palestina e a OLP.
Eles também esperavam que, ao manter suas atividades militantes separadas, Israel não interferisse em seu trabalho social.
Fundação do Hamas
O Hamas foi fundado em 1987, logo após o início da Primeira Intifada.
Naquele ano, seu co-fundador, Sheik Ahmed Yassin, disse que o Hamas foi fundado para libertar a Palestina do domínio de Israel e das ocupações militares israelenses.
Primordialmente, o objetivo final seria estabelecer um estado islâmico na área que hoje compreende o estado judeu, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Desde 1994, o grupo tem afirmado que aceitaria uma trégua se Israel devolvesse os territórios conquistados na Guerra de 1967, além de pagar reparações, permitisse eleições livres nos territórios e desse aos refugiados palestinos o direito de retornar aos seus antigos lares.
Ataques e retaliações
Em síntese, a ala militar do Hamas lançou ataques contra civis e soldados israelenses, muitas vezes descrevendo-os como retaliatórios, em particular por assassinatos do escalão superior de sua liderança.
As táticas incluem ataques suicidas e, desde 2001, ataques com foguetes.
O arsenal de foguetes do Hamas, embora consistindo principalmente de foguetes ‘Qassam’ caseiros de curto alcance com um alcance de 16 km, também inclui foguetes do tipo Grad (21 km de alcance) e de maior alcance (40 km), suficiente para atingir as grandes cidades israelenses.
A organização Human Rights Watch condena como ‘crimes de guerra’ e ‘crimes contra a humanidade’ tanto o Hamas quanto Israel por ataques a civis durante o conflito, afirmando que a lógica das represálias nunca é válida quando os civis são os principais alvos.
Ideologia, liderança e estrutura do Hamas
Especialistas consideram o Hamas uma facção política nacionalista, fundamentalista sunita, anti-sionista, ligada à extrema-direita e a ‘solução de um estado’, ou seja, apenas o Estado Palestino, subjugando Israel.
O Hamas herdou de seu antecessor uma estrutura tripartite que consistia na prestação de serviços sociais, treinamento religioso e operações militares sob um Conselho Shura.
Tradicionalmente, tinha quatro funções distintas: uma divisão de bem-estar social de caridade (dawah); uma divisão militar para aquisição de armas e realização de operações (al-Mujahideen al Filastinun); um serviço de segurança (Jehaz Aman); e um ramo de mídia (A’alam).
Antissemitismo e anti-sionismo
De acordo com a pesquisadora acadêmica Esther Webman, o anti-semitismo não é o principal princípio da ideologia do Hamas, embora a retórica anti-semita seja frequente e intensa nos panfletos do Hamas.
Os folhetos geralmente não fazem distinção entre judeus e sionistas. Em outras publicações do Hamas e entrevistas com seus líderes, foram feitas tentativas de diferenciação.
Em 2009, representantes do pequeno grupo judeu anti-sionista Neturei Karta se reuniram com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Gaza, que afirmou não ter nada contra os judeus, mas apenas contra o Estado de Israel.
Contudo, o Hamas fez declarações conflitantes sobre o reconhecimento de Israel.
Em 2006, um porta-voz do Hamas sinalizou que estava pronto para reconhecer Israel dentro das fronteiras previstas de 1967.
Violência e terrorismo
O Hamas tem usado atividades políticas e violência na busca de seus objetivos.
Por exemplo, enquanto politicamente engajado na campanha eleitoral para as eleições parlamentares nos Territórios Palestinos em 2006, o Hamas declarou em seu manifesto eleitoral que estava preparado para usar “resistência armada para acabar com a ocupação israelense”.
De 2000 a 2004, o Hamas foi responsável pela morte de quase 400 israelenses e feriu mais de 2.000 em 425 ataques, de acordo com o Ministério de Relações Exteriores de Israel.
De 2001 a maio de 2008, o Hamas lançou mais de 3.000 foguetes Qassam e 2.500 ataques de morteiros contra Israel.
Visões internacionais da organização política
A princípio, Canadá, União Europeia, Israel, Japão e Estados Unidos classificam o Hamas como uma “organização terrorista”. A Austrália, Nova Zelândia, Paraguai e Reino Unido classificam apenas sua ala militar como terrorista.
Em contrapartida, países como Brasil, China, Egito, Irã, Noruega, Qatar, Rússia, Síria e Turquia reconhecem o Fatah apenas como uma facção política.
Em dezembro de 2018, a Assembleia Geral das Nações Unidas rejeitou uma resolução dos EUA condenando o Hamas como uma organização terrorista.
Enquanto o Hamas é considerado um grupo terrorista por vários governos e alguns acadêmicos, outros consideram o Hamas uma organização complexa, com o terrorismo como apenas um componente.
Os EUA baniram o Hamas em 1995, assim como o Canadá em novembro de 2002.
Analogamente, a União Europeia baniu o braço militar do Hamas em 2001 e, sob pressão dos EUA, incluiu o Hamas em sua lista de organizações terroristas em 2003. O Hamas contestou essa decisão, mas ela foi mantida pelo Tribunal de Justiça Europeu em julho de 2017.
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Fontes: UOL Educação, G1, Infoescola, História do Mundo
Imagens: Raya, Medium, Palinfo, Carta Capital, Epoch Times, Financial Times