Em meados do século XX, mais especificamente nas três primeiras décadas, os regimes totalitários tomaram conta da Europa, impondo ideologias consideradas dominantes, através de um teor nacionalista e com ênfase no incentivo ao extermínio de diferentes povos, como judeus e ortodoxos. Nesse sentido, um dos marcos desse sistema repressor foi a prisão desses grupos em campos de concentração, conhecido como Gulag.
Esse termo é a abreviação de Glavnoe Upravlenie Legarei, que significa “Administração Geral dos Campos”. Contudo, esse significado tornou-se bem mais amplo a partir da “eficácia” dessa estratégia, que reunia presos comuns e presos políticos para trabalhavam em campos isolados, tudo isso sob péssimas condições.
A criação desses campos de concentração ocorreu em 1919. Entretanto, foi apenas em 1930 que o número de exilados aumentou significativamente, com o stalinismo.
Conheça abaixo mais características dos Gulags, onde elas estavam situadas e como funcionavam.
Como surgiu a Gulag?
Desde o sistema czarista russo, que antecedeu o regime stalinista momentos antes da Revolução Russa, a repressão e aplicação de penas desumanas já faziam parte do cotidiano do país.
Entretanto, esses castigos tomaram outra proporção a partir do governo de Josef Stálin em 1927. Após a morte de Lenin e a implantação da União Soviética (URSS), a expansão dos Gulags tornou-se uma das principais medidas do então mandato.
Os perfis dos moradores dos Gulags eram os mais variados, sendo considerados os “inimigos do povo”. No início, os prisioneiros eram burgueses, monarquistas, proprietários rurais e sacerdotes. Ademais, não podiam faltar aqueles discriminados apenas pela origem de seus povos, sendo alguns deles judeus, georgianos e chechenos.
Posteriormente, com o aumento da repressão e da censura, qualquer um que ousasse desafiar as ordens do governo seria também enviado aos campos de concentração russa.
Estima-se que os primeiros prisioneiros chegaram entre 1918 e 1921. Os campos ficavam localizados, em sua maioria, na Sibéria, local isolado no norte da Rússia pouco habitado devido ao clima local.
Como ela funcionava?
Com a opressão do governo stalinista, os Gulags viraram verdadeiros locais de terror para milhares de pessoas que não concordavam com as posições político-ideológicas do ditador.
Dessa forma, calcula-se que haviam quase 500 campos de concentração, com uma variação de pessoas que ia de 200 a milhares de prisioneiros.
Se no início a população era restrita aos desafiadores mais ferrenhos do governo bolchevique, com a ascensão das medidas repressoras esse conceito de inimigo se expandiu consideravelmente.
Nas Gulags, os prisioneiros trabalhavam em turnos de até 30 horas para construir obras como aeroportos, estradas e campos de petróleo. Grandes construções soviéticas, inclusive, provêm desse período como o canal do Mar-Branco Báltico e o canal Moscou-Volga.
Essas funções serviriam para redimir o criminoso, que na visão de Stálin, construiria um novo homem dentro de uma nova sociedade socialista.
O trabalho de prisão dos resistentes era feito pela NKVD ou KGD, a polícia secreta russa. Ademais, eram os próprios guardas que realizavam as execuções dos prisioneiros, que morriam em milhares de vítimas das jornadas extremas de trabalho, da pressão psicológica e das péssimas condições de saúde e higiene a que eram submetidos.
Nem mesmo os seus nomes podiam ser revelados. O segredo era ficar atento pela primeira letra do seu sobrenome, que, ao ser mencionada, dava início ao interrogatório.
Todos esses relatos foram registrados pela jornalista americana Applebaum, autora de “Gulag – Uma História”, obra vencedora do prêmio Pulitzer de jornalismo, em 2003.
De acordo com a autora, o maior campo de concentração, em Kolyma, contou com a execução de 3 milhões de pessoas. Em virtude disso, eram altos os índices de suicídio, que vitimizaram mais de 1 milhão de pessoas entre 1934 e 1953, segundo o próprio regime.
Gulag: mais características e o fim da repressão
Para receber sua porção de comida, o preso deveria cumprir sua cota diária de 12 horas de serviço. Contudo, se isso não ocorresse, ele comeria apenas metade da porção.
Sobre o rigoroso frio soviético, regiões como a Sibéria apresentavam temperaturas de 30° C abaixo de zero, onde os prisioneiros deveriam trabalhar incansavelmente e sobre a vigília de soldados e cães preparados.
Apesar de tudo isso, é impreciso citar quantos mortes ocorreram devido a esse regime, pois muitos corpos desapareceram. Estudiosos estimam em até 3 milhões de falecidos, muito acima do número oficial do governo russo.
Por fim, os Gulags começaram a ser desmontados após a morte de Stálin, em 1953, perdurando até a década de 80, quando foram definitivamente extintos em 1987.
O marco da obra de Alexander Soljenítsin
Alexander Soljenítsin (1918-2008) foi um escritor russo condenado a 10 anos de trabalhos forçados e ao exílio perpétuo por ter duvidado das capacidades de Stálin como líder militar.
Mesmo que sua liberdade tivesse sido cerceada, ele teve sua primeira publicação, “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, permitida pela URSS e que denunciava as atrocidades dos campos de prisioneiros. A responsável pela autorização foi Nikita Krushev.
Todavia, com o endurecimento da política soviética a partir da entrada do novo presidente da URSS, Leonid Brejnev (1964-1982), Alexander foge para a Estônia a fim de terminar sua segunda obra, mais completa e com relatos de outros prisioneiros.
Seu nome, Arquipélago Gulag, fez referência a visão que ele tinha sobre as prisões: eram todas interligadas pelo mesmo sistema violento e em obediência à KGB.
E então, gostou de saber o que foram as Gulags? Então, leia também sobre os campos de concentração.
Fontes: Aventuras na História, Toda Matéria, InfoEscola, Brasil Escola, História do Mundo.
Imagens: Super Interessante, Aventuras na História, Revista Híbrida, Diario Octubre, Acervo O Globo.