No século XIX, a província de Pernambuco era o principal polo econômico do Nordeste brasileiro. No entanto, uma série de fatores sociais e políticos levou à eclosão da Revolução Praieira. Também conhecida como Insurreição Praieira de Pernambuco, essa revolta ocorreu entre os anos de 1848 e 1850.
Enquanto de um lado desse confronto haviam os liberais, representados pelos praieiros, do outro haviam os conservadores. Antecedendo o conflito armado, os dois grupos protagonizaram diversos embates ideológicos. Inclusive, eventualmente, cada um dos movimentos abriu seu próprio jornal para panfletar contra o outro.
Sendo assim, visto que a sede do jornal liberal, intitulado “Diário Novo” era localizada na Rua da Praia, os integrantes do movimento considerado progressista acabaram recebendo o nome de “praieiros”. A Revolução Praieira foi considerada a última revolta do Brasil Império e chegou a contar com a participação do Barão de Cotegipe.
Contexto histórico
Já no final do Segundo Reinado, a população que habitava Recife se encontrava insatisfeita por diversos motivos. Além da gritante desigualdade social, a economia açucareira estava em declínio e, com a crescente abolição da escravatura, o tráfico de escravos foi dificultado, gerando uma disputa por mão-de-obra entre as elites.
Como resultado disso, o custo de vida recifense, que já não era muito acessível, se tornou ainda mais caro. Dessa forma, a população acabou se revoltando contra os estrangeiros, sobretudo ingleses e portugueses, que monopolizavam o comércio varejista, o que dificultava o acesso à comida.
Ademais, a política pernambucana era comandada pelos integrantes da família Cavalcanti, a mais tradicional e rica da região. Essa aristocracia exercia um poder absoluto e agressivo que, somado aos fatores acima, começaram a revoltar a população. Diante desse contexto, foi plantada a semente da Revolução Praieira.
O Partido Praieiro
Apesar das várias deficiências na infra estrutura pernambucana, a questão política é considerada o grande motivador da Revolução Praieira. Visto que o governo dos Cavalcanti era autoritário e conservador, surgiu o Partido Praieiro, um grupo integrado por adeptos do liberalismo que difundiam seus ideais através do jornal Diário Novo.
Embora por muito tempo as disputas entre conservadores e liberais não tenham passado do campo ideológico, em 1845 a situação mudou. Após conseguir nomear um de seus membros para a presidência da província, o Partido Praieiro deu início a uma série de intervenções que visavam conquistar o apoio popular e enfraquecer a oposição.
Inicialmente, os praieiros tiraram os conservadores dos cargos de poder, demitindo-os e colocando aliados em suas posições. Essa ação acabou resultando na demissão de aproximadamente 650 pessoas de funções importantes da Polícia Civil e da Guarda Nacional. Além disso, os praieiros começaram a desarmar, literalmente, os conservadores.
Sendo assim, usando sua autoridade, os liberais começaram a invadir propriedades de opositores e apreender as armas que o Estado havia lhes dado. Eles também realizavam prisões de criminosos fugitivos e escravos furtados de outros engenhos. Porém, isso só acontecia nas propriedades dos conservadores, o que começou a gerar conflitos.
Já no âmbito popular, os praieiros deram início a um grande movimento nacionalista. Visto que os pernambucanos estavam insatisfeitos com os estrangeiros, essa iniciativa gerou uma significativa comoção. Essa iniciativa gerou uma radicalização da população que começou a atacar imigrantes em suas lojas, chegando a matar alguns.
Principal motivador da Revolução Praieira
Visto que os nervos pernambucanos estavam à flor da pele e o cenário se encontrava mais inflamável do que nunca, era necessária apenas uma faísca para iniciar uma revolta. Pois bem, em 1848 isso aconteceu. Após uma reviravolta política, os conservadores retomaram o controle do gabinete ministerial.
Assim que recuperaram o poder sobre a província de Pernambuco, o partido antiliberal deu início a sua vingança. Todos aqueles que haviam sido nomeados pelos praieiros aos cargos na Polícia Civil e Guarda Nacional foram demitidos e substituídos por aliados dos conservadores. Em seguida, deu-se início ao desarmamento dos liberais.
Contudo, ao contrário do que havia acontecido no desarmamento anterior, os praieiros demonstraram uma forte resistência às políticas conservadoras. Como resultado disso, cerca de 40 proprietários rurais ligados aos liberais se manifestaram contra essa iniciativa, se negando a abandonar seus respectivos cargos e a devolver suas armas.
Segundo historiadores, a Revolução Praieira teve um início oficial após Manoel Pereira de Moraes, um dono de engenho, reagir à tentativa de desarmamento vinda de tropas conservadoras.
A Revolução Praieira
Não demorou para que a revolta dos praieiros se espalhasse para toda província. As cidades de Olinda e Recife se tornaram palcos de diversos combates ao longo de dois anos. Enquanto os liberais se manifestaram de um lado, liderados por Pedro Ivo, os conservadores reprimiam do outro, sob o comando do capitão Antônio de Sampaio.
Pedro Ivo era um arrendatário já familiarizado com movimentos populares em Pernambuco. Sendo assim, ele liderou 1600 homens que se propuseram a lutar pelos liberais e os levou até Recife. Chegando lá, os revoltosos se depararam com uma cidade protegida por tropas da Guarda Nacional. Deu-se início a uma batalha de 12 horas.
No fim do confronto, 200 homens da tropa liberal haviam morrido, somados a 90 membros da Guarda Nacional. Além disso, essa batalha em fevereiro de 1849 acabou levando um dos nomes mais expressivos entre os praieiros, o deputado Nunes Machado. Enquanto essas mortes eram veladas, no interior de Pernambuco a luta continuava.
Eventualmente, Borges da Fonseca, um liberal radical, se aliou aos praieiros. Reunindo seu apelo popular, Fonseca escreveu um manifesto que marcou a Revolução Praieira. Intitulada Manifesto do Mundo, a declaração trazia algumas reivindicações progressistas inspiradas pelo socialismo utópico que ganhava força na Europa.
O Manifesto de Borges da Fonseca
O documento apresentado por Borges da Fonseca sugeria as seguintes reformulações estruturais:
- voto livre e universal;
- liberdade de imprensa;
- trabalho como garantia de vida dos brasileiros;
- nacionalização do comércio a retalho (varejo);
- independência dos poderes;
- extinção do Poder Moderador;
- implantação do federalismo;
- reforma do Judiciário;
- fim do recrutamento militar;
- fim da lei de juro convencional.
O fim da revolta e a derrota dos liberais
Após a morte de Nunes Machado, Borges da Fonseca seguiu na liderança do movimento. Embora a luta tenha migrado para o interior pernambucano, na região da Zona da Mata, não demorou para que a guerrilha fosse contida. Assim, em 1850, a Revolução Praieira teve fim.
Apesar de ter sido marcada pela derrota dos liberais, a Revolução Praieira foi a última revolta de caráter liberal no Nordeste. Curiosamente, com sua reputação manchada após essa rebelião, o Partido Liberal só voltou a ter poder em 1864, quando conseguiu acesso ao Parlamento.
E então, o que achou da matéria? Se gostou, confira também: O que foi a Revolução de 1848 e quais eram seus ideais?
Fontes: Brasil Escola, Toda Matéria, InfoEscola.
Imagens: Personagens Históricos, Nexus Mods, Francisco Miranda, Diálogos Essenciais, Ensinar História, IGHB.