Uma onda de protestos e revoluções populares ocorreu no Oriente Médio e norte da África, em 2011. Esse período foi chamado de Primavera Árabe. As revoltas aconteceram como forma de reivindicação de melhoria de vida.
Os países envolvidos – Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmem, Bahrein, Jordânia, Marrocos, Omã, Argélia e Arábia Saudita – estavam vivendo crises econômicas e uma grande falta de democracia. Como consequência disso, as populações estavam sofrendo altos taxas de desemprego e encarecimento dos preços de alimentos.
As manifestações começaram na Tunísia. A luta contra a corrupção e repressão acabou por derrubar o sistema ditatorial encabeçado por Zine El Abidini Ben Ali. Dessa forma, outros países, que passavam por situações similares, se inspiraram para iniciar uma movimentação popular de cunho político pró-democracia.
Primavera Árabe em cada país
O termo “Primavera Árabe” nasceu com o significado de renovação para os países árabes. Ele fala sobre a transição do autoritarismo geral para regimes democráticos. Os países envolvidos possuem características governamentais semelhantes, no entanto, suas diferenças culturais fazem cada revolução ser muito específica.
Então, é preciso entender como aconteceu em cada lugar. Confira:
Tunísia
Os protestos na Tunísia também ficaram conhecidos como Revolução de Jasmim. A gota d’água que fez a população ir às ruas foi um caso com o vendedor de frutas, Mohamed Bouazizi. Depois de ter seus produtos confiscados, ele ateou foto no próprio corpo, deixando para trás esposa e filhos. O episódio alarmou todo o país e deu início às revoltas.
Após a deposição do ditador Ben Ali em janeiro de 2011, a Tunísia precisou reestruturar sua política. Em outubro foram realizadas as primeiras eleições parlamentares democráticas. Quem venceu foi o Partido Islâmico com Moncef Marzouki como presidente.
O objetivo do novo governo era criar uma nova constituição. No entanto, o país continuava instável política e economicamente. E só em 2014 foi adotada uma constituição progressiva, visando eleições mais livres.
Atualmente, a Tunísia é presidida por Beji Caid Essebsi, que defende a instituição de um país laico. Apesar de já ser mais democrático, o país ainda passa por uma transição política. Portanto, melhores condições de vida ainda é razão de manifestações.
Egito
Em 11 de fevereiro, um mês após a deposição do ditador tunisiano, o Egito conseguiu que o presidente Hosni Mubarak renunciasse. O país passou por 20 anos de governo autoritário. Sendo assim, na transição política os poderes presidenciais foram transferidos para a Suprema Corte das Forças Armadas.
As eleições de junho foram vencidas por Mohammed Morsi, do Partido da Liberdade e da Justiça. Sua primeira ação foi revogar o decreto que lhe limitava os poderes. Então, passou a construir uma Constituição islamista.Seu governo foi curto, pois em 2013, após ações repressivas, novas manifestações foram realizadas. Assim, Morsi foi deposto.
A Primavera Árabe no Egito foi intitulada Dias de Fúria, Revolução de Lótus e Revolução do Nilo. No entanto, o país segue uma instabilidade político-ideológica, por conta da divisão entre apoiadores do atual governo e a oposição.
Líbia
Os protestos na Líbia se deram contra o regime ditatorial do coronel Muammar al-Gaddafi, que estava no poder desde 1969. Além de manter um governo opressor, ele também foi acusado de reter riquezas para si próprio enquanto a população vivia na pobreza.
As manifestações não foram nada pacíficas e resultaram na Guerra Civil da Líbia. Gaddafi, por sua vez, assumiu ter controle sobre armas químicas. O que gerou pânico internacional, pois ele era visto como uma ameaça para o mundo todo.
Os conflitos armados duraram seis meses, deixando milhares de mortos, tento intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). E, em outubro de 2011, o ditador foi preso e assassinado por simpatizantes do partido opositor.
Hoje, a Líbia possui um governo central de caráter transitório endossado pela ONU. Logo, é bastante fraco. Sendo assim, o país segue dividido entre várias milícias, se mantendo em guerra civil.
Iêmen
A Primavera Árabe no Iêmen buscava o fim da ditadura de Ali Abdullah Saleh e a reforma da constituição, objetivando melhorar a economia do país. No entanto, o governo foi responsável por reprimir os manifestantes de forma violenta.
Inclusive, acordos com o grupo terrorista Al-Qaeda foram realizados. Os protestos, porém, não foram transformados em guerra civil. Isso porque Saleh se afastou de seu cargo, transferindo seus poderes para o vice-presidente Abd al-Rab Mansur al-Hadi.
Assim, o governo passaria por uma transição. Mas a democracia esperada pela população não progrediu como o esperado. E o Iêmen continua sofrendo disputas políticas e sua economia segue em colapso.
Bahrein
A tensão em Bahrein se dá pela divisão do país entre família real Sunita, que detém o poder, e a população de maioria Xiita. A revolução tinha objetivava uma maior liberdade política aos Xiitas. Porém, o governo repreendeu os revoltosos de maneira violenta.
Logo em seguida, a deposição do rei Hamad bin isa Al Khalifa começou a ser exigida. Mas uma intervenção militar da Arábia Saudita evitou a deposição da família real. Sendo assim, Bahrein segue até hoje o regime de monarquia absolutista.
Mas as revoltas também não acabaram. Muitos conflitos sangrentos ainda são realizados. Inclusive, rebeldes já tentaram atacar eventos importantes como o Grande Prêmio de Fórmula 1. Desses combates, vários pessoas saíram mortas.
Síria
Os conflitos sírios se espalharam por todo o país. A briga pelo fim do regime repressivo buscava maior liberdade política, um sistema democrático e também a deposição do presidente Bashar al-Assad.
Mas, retirar uma família que está no poder há 48 anos não é tarefa simples. O governo passou a reprimir violentamente os manifestantes. Dessa forma, iniciou-se uma guerra civil na Síria, que dura até hoje. E as conseqeências são as milhares de pessoas mortas ao longo dos anos e uma grande perda na economia.
A população Sunita, que é maioria, tem o apoio da Arábia Saudita contra o governo autoritarista. Além disso, a comunidade internacional, juntamente com a ONU, pressiona o país para acabar com a guerra civil e com a ditadura. No entanto, o regime governamental tem o apoio da Rússia, que possui poder de veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU.
Sendo assim, pode-se dizer que a Primavera Árabe na Síria continua acontecendo. Uma vez que o país mantém o mesmo governante e reprime de forma brutal os manifestantes.
Marrocos
No Marrocos, as manifestações se iniciaram em fevereiro de 2011, principalmente na capital Rabat. Diferente dos outros protestos, a ideia não era depor a monarquia, mas visavam limitar os poderes do rei Mohammed VI. Para acalmar os ânimos, o monarca atendeu os desejos da população, convocou uma nova eleição parlamentar e ainda criou fundos de ajuda às famílias de baixa renda.
Grande parte dos marroquinos aceitou as mudanças. No entanto, o poder da monarquia ainda é muito forte e amplo, o que gera insatisfação. Consequentemente, protestos por uma monarquia constitucional que funcione com o primeiro-ministro comandando o Executivo continuam acontecendo.
Jordânia
Semelhantemente ao caso do Marrocos, a revolução na Jordânia não pretendia depor o rei Abdullah II. As reivindicações eram para reformar a monarquia, melhorar as condições de vida e acabar com a corrupção.
Para evitar que conflitos maiores e mais graves atingissem o país, o rei tomou algumas medidas. Em 2013, ele anunciou a realização de novas eleições e nomeou o ex-militar Maaruf Bahkit como novo primeiro ministro. Porém, o partido Irmandade Muçulmana organizou um boicote às eleições. A justificativa era fraude e compra de votos.
Dessa maneira, a Jordânia ainda passa instabilidades políticas, econômicas e sociais. Além disso, a fragilidade do país o transformou em vítima de ataques terroristas pelo Estado Islâmico.
Argélia
A Primavera Árabe na Argélia acusava o governo de corrupção, restrições à liberdade de imprensa e más condições de vida. Percebendo os protestos, o presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder, realizou novas eleições e criou uma emenda com o objetivo de fortalecer a democracia.
No entanto, o elevado número de abstenções na eleição fez com que Bouteflika seguisse governando o país. Então, ele aboliu o estado de emergência em que a Argélia se encontrava, dando maior liberdade política ao povo. Além disso, também criou estações de rádio e televisão. As medidas permitiram a redução das taxas de desemprego e melhoria na economia.
Arábia Saudita
Na Arábia Saudita, as manifestações não foram tão grandes quanto nos outros países. Uma minoria foi às ruas pedir a implantação de uma monarquia constitucional, divisão de poderes e mais direitos para as mulheres. Os protestos foram reprimidos. Porém, atualmente, ainda são reivindicadas reformas políticas e liberdade feminina.
Omã
Por fim, em Omã a população também não pretende acabar com a monarquia. O objetivo dos protestos são por melhores condições de vida e salários, além de uma reforma no regime governamental. Sendo assim, por medo de gerar um conflito maior no país, o sultão Qaboos promoveu as primeiras eleições municipais em 2012.
Desde então, ele tenta controlar os ânimos da população concedendo favores. Mas, protestos e greves gerais continuam acontecendo no país.
Gostou de aprender sobre o que foi a Primavera Árabe? Então, que tal descobrir sobre outros conflitos lendo Revolução Russa – O que foi, contexto histórico, causas e consequências e Apartheid: saiba o que foi e como dividiu a África do Sul entre negros e brancos.
Fontes: Politize, Guia do Estudante, Brasil Escola.
Fontes de Imagem: Duna, Exame Abril, Funci, DCM, Mundo ao Minuto, Jornal do Estado, O Globo, Wanafrica, Oriental Midia, Folha de São Paulo, Lavanguardia, Bol Notícias.