A mitologia africana é cheia de sentido, histórias vivas e uma espiritualidade que atravessa diversas gerações. No centro dessa tradição está Olorum, o deus supremo, reconhecido como o criador de tudo o que existe, da natureza às demais divindades que fazem parte desse universo.
Mais do que explicar a origem das coisas, esses mitos falam sobre conexões: com a terra, com os ancestrais e com tudo que vai criando forma ao redor. Por isso, entrar um poquinho que seja nesse imaginário é abrir espaço para uma forma diferente de ver o mundo.
Vamos saber um pouco mais sobre a mitologia africana? Boa leitura!
Mito da criação
A mitologia africana, especialmente a dos iorubás, tem como base a crença em um deus supremo chamado Olorum, aquele que é visto como o criador de tudo que existe. Essa tradição monoteísta se espalhou para além da África, principalmente com a diáspora forçada durante o período da escravidão.
Diante disso, países como Brasil e Cuba, que receberam muitos africanos escravizados, acabaram incorporando essas crenças em suas culturas locais, mesmo diante de muita repressão.
Segundo essa mitologia, Olorum criou o universo e deu origem a outras divindades, conhecidas como orixás. Entre elas, Oxalá foi encarregado de dar vida aos seres humanos. Após várias tentativas usando elementos como madeira, ferro, água, fogo e ar, foi com a sugestão da divindade Nanã que se encontrou o material ideal: o barro. A partir dele, rntão, Oxalá moldou a humanidade.
No Brasil colonial, momento histório em que o catolicismo era a religião tida como a oficial, os africanos precisaram esconder seus rituais e crenças, muitas vezes disfarçando seus orixás com figuras de santos católicos. E, acredite: foi assim que surgiram religiões de matriz africana como o candomblé, que preservam, até hoje, boa parte dos mitos, saberes e tradições da mitologia iorubá.
Principais deuses da mitologia africana
1- Airá
Conhecido como o deus do redemoinho, esse orixá está ligado à força do raio e ao vento, representando um dos elementos mais poderosos da natureza. Seu nome deriva dos furacões que frequentemente atingem a Nigéria, conectando-o ainda mais a essa energia intensa e transformadora.
2- Exu
Um dos orixás mais conhecidos, até por quem não segue as tradições africanas, está diretamente ligado à conexão entre o mundo humano e o espiritual. Ele tem a importante função de proteger, garantir a distribuição de bens, trazer fartura, prosperidade nos negócios e também fertilidade, sendo uma presença essencial nas crenças que celebram a harmonia entre os seres humanos e as forças divinas.
3- Orixá Iemanjá
No Brasil, ela é conhecida como a rainha das águas e dos mares, sendo seu nome derivado da expressão “Yèyé omo ejá”, que significa “Mãe cujos filhos são peixes”. Além disso, ela é reverenciada como a guardiã da fertilidade feminina e possui um papel fundamental no cuidado do psicológico humano, protegendo e nutrindo todos com sua energia acolhedora.
4- Ogum
Ogum é conhecido como o orixá da guerra, do fogo, do ferro e da tecnologia, sendo, portanto, uma figura poderosa que simboliza força, coragem e transformação. Também está ligado à sobrevivência, representando a luta diária, a resistência e a capacidade de abrir caminhos mesmo diante dos maiores desafios.
5- Okô
Símbolo da colheita, da fertilidade da terra, da sexualidade e da agricultura, essa divindade carrega uma forte conexão com a natureza e os ciclos da vida. Apesar de sua importância, é pouco conhecida no Brasil, já que não foi muito cultuada pelos africanos escravizados que aqui chegaram.
6- Orixá Olorun
Na mitologia africana, ele é reconhecido como o deus supremo, responsável pela criação de tudo o que existe, inclusive das demais divindades. Por ser considerado absoluto, não pode ser incorporado, o que reforça ainda mais sua grandeza e singularidade dentro das tradições e crenças do continente.
7- Oxalá
Oxalá é visto como o mais respeitado e grandioso entre os orixás, por ser aquele que, segundo a tradição, criou o mundo e a humanidade. Com sua energia serena, é símbolo de calma, sabedoria e paz, sempre associado à harmonia e à força tranquila que inspira respeito e equilíbrio.
8- Oxóssi
Simboliza tanto o reino vegetal quanto o animal, sendo reconhecido como o orixá da fartura, das matas e florestas. Também está profundamente ligado ao conhecimento, às artes e à cultura, inspirando caminhos de aprendizado e criatividade.
9- Oyá ou Iansã
Seu nome carrega significados poéticos como “mãe do céu rosado” ou “mãe do entardecer”. Ligada aos raios, ventos e tempestades, ela também tem a força de guiar os espíritos dos mortos. É filha de Iemanjá e Oxalá, e compartilha laços profundos com seus irmãos Oxum, Obá e Oxóssi.
10- Orixá Xangô
Considerado um dos orixás mais importantes da mitologia africana, é associado à justiça, tanto a divina quanto a dos homens. Também está ligado aos elementos fogo, raios e trovões, carregando em sua essência a força da virilidade, a intensidade da agressividade e da violência, sempre guiadas por um profundo senso de justiça.
11- Xaopanã
O orixá Xapanã é o guardião das doenças, possuindo o poder de tanto curar quanto causar enfermidades. Também, é considerado uma entidade sombria, já que ele representa uma força de grande respeito e, quando não é devidamente cultuado, pode se tornar uma ameaça. Seu culto, portanto, exige cuidado e reverência, pois, assim como traz a cura, também pode ser uma força imponente se desrespeitado.
12- Logunedé
Logunedé é um orixá jovem, cheio de beleza e mistérios, conhecido por sua energia vibrante e seus tabus. Dizem que ele detesta mentiras e, por isso, confere aos sacerdotes dons psíquicos e sucesso nas artes da feitiçaria.
Mestre da magia, caçador habilidoso e orixá encantado, Logunedé se destaca por ser o único Aboró (orixá masculino) com uma conexão especial com as poderosas Iami, as mães-ancestrais.
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13- Oxumaré
Oxumaré, também conhecido como Òsùmàrè, é o Orixá que simboliza a continuidade e a permanência. Ele rege a multiplicidade da vida e a jornada entre diferentes destinos, sendo representado pela cobra arco-íris, um poderoso símbolo de fortuna e riqueza. Sua presença traz equilíbrio, renovação e prosperidade, conectando os ciclos da vida e a transição entre os momentos.
14- Orixá Ossaim
Ossaim é um orixá profundamente conectado às matas e florestas, sendo guardião das folhas e responsável pela produção de remédios naturais poderosos. Segundo a tradição, ele é o portador de todos os vegetais do mundo, detendo o poder de curar e proteger através da força da natureza.
15- Nanã
Nanã é um orixá feminino bem conectada tanto à origem do ser humano quanto da Terra. Ela é a senhora das águas paradas, dos pântanos e da terra úmida, governando esses elementos com uma sabedoria ancestral que reflete a calma e a renovação da natureza.
16- Yewá
Já Yewá é o orixá associado ao sexto sentido e à vidência, guiando aqueles que buscam a verdade interior. Ela é protetora dos puros e daqueles com o coração sincero, defendendo com força e sabedoria. Além disso, Yewá é uma guerreira de convicções firmes, que mantém sua palavra e não se deixa influenciar após tomar uma decisão.
17- Orixá Obá
Obá é a força das águas turbulentas, dominando os rios, as quedas e os redemoinhos, com a energia dos ventos a seu favor. Ela é uma poderosa senhora da natureza, sempre acompanhada de Nanã, com quem compartilha o poder de controlar as enchentes e os caminhos de barro, criando um equilíbrio entre as forças da terra e da água.
18- Ibeji
Outra figura da mitologia africana, Ibeji é a divindade que traz consigo a alegria e a pureza das crianças, cuidando delas desde os primeiros anos até a adolescência, sem se importar com o Orixá que cada uma carrega. Ele também nos conecta com a nossa criança interior, nos lembrando da leveza e da espontaneidade que existem em todos nós. Portanto, muitos a veem como símbolo da beleza e a inocência presentes nas crianças.
19- Orixá Iroko
Na mitologia africana, ele é considerado a primeira árvore plantada, e por meio dela, os outros orixás desceram à Terra. Como guardião de todas as árvores sagradas, Iroko também carrega o poder de representar a vastidão do Tempo, conectando o passado, o presente e o futuro em sua essência.
20- Oxaguiã
Oxaguiã, também chamado de Ajagunã, é o orixá do progresso e da cultura, um verdadeiro guerreiro que atua para destruir o velho e abrir caminho para o novo. Ele representa o conflito necessário antes da paz, sendo a revolução que traz mudanças profundas e a energia vital que impulsiona a efervescência da vida. Com sua força transformadora, Oxaguiã nos ensina que, muitas vezes, é preciso romper com o passado para que o futuro floresça.
21- Iyami-Ajé
Também chamada de Iami Oxorongá, representa a sacralização da figura materna, simbolizando a essência da criação e o poder profundo da mulher. Sua força está no segredo que ela guarda sobre o processo criativo do universo, sendo reverenciada como guardiã do mistério da origem de tudo.
22- Orixá Onilé
Onilé é o orixá que simboliza a essência da vida, sendo a Terra-Mãe que sustenta e transforma tudo ao seu redor. Ela está presente tanto na vida quanto na morte, sendo a primeira a ser reverenciada nas oferendas e evocada nos ritos de sacrifícios. Sua presença é fundamental, conectando os ciclos naturais e espirituais de nossa existência.
23- Ifá ou Orinmila-Ifa
Na mitologia africana, Orunmilá-Ifá é o orixá da sabedoria, sendo a Divindade Suprema que detém o conhecimento profundo dos segredos e destinos da vida humana. Ele é visto como o guardião do saber ancestral, capaz de revelar as verdades ocultas e guiar os caminhos de quem busca compreensão e equilíbrio.
24- Oraniã
Na mitologia africana, Oraniã é retratado como o rei dos iorubás da cidade de Ifé, na Nigéria, e também como o fundador do Império de Oió, por volta de 1400. Sua figura é central na história dessa civilização, carregando consigo um legado de liderança e sabedoria que atravessa gerações.
25- Orixá Odudua
Odudua é uma das divindades fundamentais, considerada, junto com Obatalá, o casal primordial que deu início à criação do mundo. Juntos, eles desempenham um papel central na mitologia, sendo a força que impulsionou o nascimento do universo e das suas formas de existência.
26- Orixá Baiani
Baiani, também conhecido no Brasil como Dadá Ajacá, é uma figura bem curiosa das tradições afro-brasileiras. Ele é representado por uma coroa adornada com búzios, chamada Adê Baiâni, que é delicadamente enfeitada com diversas tiras pendentes, simbolizando sua conexão com os mistérios e forças da natureza.
27- Olocum
Olocum é a poderosa orixá Senhora do mar, uma entidade que une a força da mulher e a liberdade do peixe. Ela simboliza os mistérios profundos do oceano, trazendo consigo a fertilidade, a prosperidade e o equilíbrio, não apenas para a sociedade, mas também para a harmonia dentro das famílias. Dessa forma, seu poder inspira respeito e celebra a conexão com as águas que nutrem e transformam.
28- OrixáNlá
O OxiáNlá, também conhecido como Obatalá, é o Orixá mais reverenciado, sendo considerado o Pai de todos os Orixás e de todos os seres humanos. Sua presença carrega uma sabedoria ancestral e um poder de criação que nos conecta com a origem da vida e da harmonia do universo.
29- Orixá Olossá
Olossá é a divindade das lagoas, uma orixá de grande sensibilidade e zelo. Com uma presença tranquila e protetora, ela recebeu de Olocum a responsabilidade de governar os lagos que se encontram com os mares, guardando em seu espírito a harmonia entre as águas doces e salgadas.
30- Oxalufã
Por fim, Oxalufã é o orixá que representa a paz, a paciência e toda a serenidade que nos envolve. Conhecido por sua sabedoria acumulada ao longo do tempo, ele é um Oxalá mais velho, curvado pelas experiências dos anos, sempre com seu bastão de metal branco, que simboliza a força tranquila e a calma que ele transmite.
Você sabia?
- O orixá é uma força pura e imaterial, a qual só se torna perceptível aos seres humanos manifestando-se em um deles;
- O ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégùn;
- O culto aos orixás, deuses iorubás, nasceu na Nigéria, Daomé e Togo;
- O termo iorubá aplica-se a um grupo étnico e linguístico de milhões de indivíduos, e denomina hoje um povo, idioma, cultura e uma nação.
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Fontes: Jornal USP, Geledés, Escola Educação, reino de xango, astro centro
