Conhecida como a Joana d’Arc da Caatinga, Maria bonita era vista como uma heroína do cangaço. Era destemida, empoderada, bem humorada. Companheira do cangaceiro Lampião, foi responsável por lutar contra a ação de coronéis e o governo.
O nome Maria Bonita só veio a se popularizar depois de sua morte, em 28 de julho de 1938, aos 28 anos de idade. Antes disso, a rainha do cangaço era chamada por familiares de Maria de Déa.
Desta forma, Maria Bonita era uma mulher que estava à frente do seu tempo. Assim, vista como guerreira por não se calar, por lutar ao lado de lampião, Maria Bonita começou a fazer parte do bando dos cangaceiros por livre espontânea vontade.
Porém, por mais que Maria fosse uma mulher transgressora, ela não tinha consciência de gênero e da importância de defender outras mulheres. Assim, não se incomodava com agressões e a opressão que outras mulheres sofriam.
A história de Maria Bonita
O nome completo era Maria Gomes de Oliveira, nascida no dia 8 de março de 1911. Assim, seu lar era a fazenda Malhada do Caiçara, próximo à localidade Santa Brígida, no Estado da Bahia. Além disso, era chamada pelos pais, os fazendeiros Maria Joaquina da Conceição e José Gomes de Oliveira, de Maria Déia.
Todavia, Maria Bonita se casou logo cedo, aos 15 anos. Porém, seu marido, o sapateiro José Miguel da Silva, era estéril e o casal não podia ter filhos. Por conta disso, as brigas eram constantes e logo Maria Déia se separa e volta à morar perto de seus pais.
Por coincidência, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, passou pelas redondezas e Maria o viu. De fato, alguns dizem que antes mesmo de conhecê-lo Maria Déia já sentia algo pelo Lampião. Porém, a jornalista Adriana Negreiros, autora da biografia Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, acredita o contrário.
Dessa forma, Lampião era apenas o “homem do momento”, o que teria atraído Maria Bonita. Porém, com a passar do tempo e a convivência, a jornalista acredita que o sentimento de afetuosidade tenha crescido entre os dois.
O que era pra ser só alguns dias de Lampião na fazenda Malhada do Caiçara, se tornaram dez. Assim, os dias com Maria Bonita foram de grande proveito. Logo, a cangaceira via em Lampião uma forma de se livrar da vida rotineira e do marido que não a satisfazia na vida.
O cangaço feminista
Maria Déia partiu com Lampião para a caatinga, depois de se despedir dos familiares. Assim, deixou a vida de casada e foi a primeira mulher a fazer parte do bando de cangaceiros. Logo, os de mais integrantes do bando passaram a chamá-la de Dona Maria, Maria de Lampião ou Maria do Capitão, como forma de respeito.
Em síntese, a rainha do cangaço tinha 20 anos e o ano era 1931. Por consequência, outras mulheres se viram inspiradas a seguir o mesmo caminho e também entraram para o bando. Dessa forma, começa ali no cangaço uma revolução feminista por respeito e mais espaço.
Dessa forma, as mulheres tinham armas, eram fortes aliadas em negociações e reuniões. Porém, não era sempre que podiam participar dos combates, mas estavam sempre com armas para defesa pessoal. Além disso, eram parte das brigadas, cuidavam dos feridos e eram companheiras dos cangaceiros.
Além de Maria e Lampião, outros casais também se formaram no cangaço. Assim, Corisco e Dadá; Gato e Inacinha; Moita Brava e Sebastiana; José Sereno e Cila; Labareda e Maria; José Baiano e Lídia; e Luís Pedro e Neném foram alguns deles.
Contudo, por mais que as cangaceiras lutassem por melhores condições elas ainda sofriam em algumas questões. Assim, quando ficavam grávidas, eram obrigadas a andarem por longas estradas para fugirem de soldados. Além disso, sofriam com as condições extremas da caatinga.
A vida
Após ingressas no bando de cangaceiros, Maria ficou grávida de Lampião. Porém, pelas condições extremas em que vivia, perdeu o feto. Assim, vários foram os abortos espontâneos, até que em 1932 conseguiu dar a luz. Dessa maneira, foi à sombra de um umbuzeiro em Porto de Folha, no Estado de Sergipe, que Expedita nasceu.
Porém, as leis do cangaço determinavam que as crianças não podiam faziam parte do bando. Assim, logo que nasciam, eram entregues à parentes ou à pessoas próximas como padres, coronéis, juízes, militares, ou fazendeiros. Desta forma, Expedita não pôde ser criada pelos pais, pois a vida no cangaço já estava traçada.
Lampião era visto como um homem de muitas qualidades. Assim, no meio da caatinga conseguia ser guerrilheiro, médico, farmacêutico, dentista, vaqueiro, poeta, estrategista e artesão. Desta forma, era prestativo, confeccionava suas próprias vestimentas e ajuda no parto das mulheres do cangaço.
O tiro
Em uma das batalhas do cangaço, m Garanhuns (PE), Maria foi baleada. Assim, Lampião ordenou que a luta fosse encerrada e pegou Maria em seus braços para que a levasse ao município de Buíque, onde ela tratou os ferimentos na vila de Guaribas.
Porém, a recuperação não pôde ser comemorada por muito tempo. Assim, em um dos esconderijos considerados por Lampião como um dos mais seguros, o bando foi atacado pela volante, no dia 27 de junho de 1938. Era o acampamento Angicos, no Sertão do Sergipe.
Dessa maneira, o ataque foi implacável sem chances de escapatória. Assim, Lampião foi baleado e o destino de Maria não foi diferentes. Logo, sem forças para se levantar, ela se arrastou até se companheiro. Porém, foi capturada pelos cabelos e degolada pelo soldado José Panta de Godoy.
Após a morte da maioria do bando de cangaceiros, a volante ainda saqueou o grupo pegando todo o ouro e objetos de valor. Assim, morria junto ao cangaço a história da primeira mulher à participar do bando.
Por consequências, os corpos e as cabeças degoladas foram expostos pelos soldados e eram motivos de risadas. Assim, os restos mortais atraíam pessoas de vários lugares, não importasse onde fossem expostos.
O fim
Após a morte dos cangaceiros, os crânios foram analisados pelo Instituto de Medicina Legal de Maceió que alegava que um indivíduo normal, não se tornava bandido. Porém, a hipótese não foi sustentada pois pesquisadores confirmaram que as cabeças estavam em estado normal.
Desta maneira, as famílias dos cangaceiros queriam um enterro para seus familiares e lutaram junto à Justiça pelo dirito. Porém, só conseguiram os direitos aos seus familiares com o Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965.
Assim, no dia 6 de fevereiro de 1969, após muitos anos de anos de exposições e estudos as cabeças de Maria e Lampião foram sepultadas no cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador.
Maria e Lampião são importantes figuras da arte, sendo representados na literatura, no cinema, na fotografia. Os familiares do casal vivem em Aracaju (SE) e a filha de Maria e Lampia, Expedita, se casou com Manuel Messias Neto. Se estivesse viva, a rainha do cangaço teria quatro netos, Djair, Gleuse, Isa e Cristina.
Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço
A jornalista Adriano Negreiros é a autora da biografia mais detalhista sobre a rainha do cangaço. O livro é um relato sobre o que foi aquela época pela ótica das mulheres que vivenciaram o cangaço. Assim, por mais que a história preze em mostrar a força que as mulheres do cangaço adquiriram, a verdade é que elas também sofriam muita opressão.
Além disso, as mulheres podiam ser fortes e guerreiras, porém, não defendiam o direito de outras mulheres. Assim, compactuavam ainda mais com a opressão e o sacrifício de algumas cangaceiras.
Além do mais, muitas mulheres entregaram para o cangaço não por vontade própria. Assim, diferente da rainha do cangaço, muitas mulheres eram capturadas e obrigadas a fazerem parte do bando. Além disso, quando engravidavam, eram obrigadas a entregarem os filhos à parentes ou a conhecidos que não faziam parte do cangaço.
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Fontes: Basilio Fundaj, BBC, Isto É
Fonte imagem destaque: CBN