Você já deve ter falado a palavra “aliás” em seu dia a dia, certo? Em outras situações, pode ter usado até a expressão “carpe diem”, também. Sobretudo, saiba que quando você usa esses termos, você estava falando em latim! Quando falamos sobre essa língua, diretamente já nos remete a algo ultrapassado, ainda mais que o latim é conhecido como uma língua morta. Além disso, ele não é utilizado oficialmente por nenhum pais, exceto o Vaticano.
Entretanto, nesta matéria você vai ver que o latim é uma língua morta e viva, ao mesmo tempo.
Como sabemos, o latim é uma língua-mãe, que deu origem a inúmeras e diversas outras línguas. Sem contar que, ele está presente em nosso cotidiano e é usada dentro da igreja católica, como língua oficial.
Para entendermos, vamos partir desde o princípio. Primeiramente, essa língua-mãe nasceu na região do Lácio, em Roma. Basicamente, foi aqui que veio as chamadas línguas românicas, dentre elas tem o nosso português.
Um dos principais representantes do parnasianismo brasileiro, Olavo Bilac, poeta e jornalista, escreveu um poema com referência histórica. Essencialmente, o poeta fala da língua portuguesa, que foi a última língua formada a partir do latim. Veja alguns versos:
“Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, ao mesmo tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela… (…)”
Agora precisamos deixar claro o porquê de o latim ser uma língua viva e morta.
Como é uma língua viva?
Em suma, uma língua viva é aquela que está sujeita a mudanças. Fato é, todas as línguas modernas são reféns de mudanças, já que a sociedade está em constante transformações. Por exemplo, quando surgiu o smartphone ou laptop, precisaram criar uma nova palavra. Assim, isso faz com que a língua mude e seja viva.
Para além disso, ainda há palavras que mudam de sentido, como no português. Quando falamos manga, podemos estar nos referindo à fruta ou à camiseta, depende da situação.
Ok, mas e o latim? Bom, o latim não pode ser revivido. É necessário que ele continue morto, para que o significado das palavras não mude.
O latim está morto
Caso comecemos a usar nossa língua-mãe nas ruas, com os amigos, no trabalho, entre outras situações, vamos fazer com que ela se transforme em uma língua como qualquer uma das outras. Como, por exemplo, português, inglês e francês.
Assim, ele não vai ser mais o latim usado por Cicero ou por Plauto, que foram grandes filósofos referenciais do latim, durante a Roma Antiga. É importante que o latim continue morto, para permanecer vivo!
Qual a importância de uma língua morta?
Basicamente, a Igreja Católica usa o latim por ele ser morto. Pois, ao escrever um documento hoje, daqui cem anos ele ainda vai ser possível de ser lido. Enquanto isso, se a Igreja escrevesse um documento em português hoje, daqui 50 anos não seria possível entende-lo, já que a língua está em constante mudança. Assim acontece quando vamos ler Shakespeare, sem nenhuma adaptação, não entendemos nada.
Não é possível comunicar com o passado. Aliás, isso acontece com todas as línguas, se formos ler Camões sem edição do vocabulário, não conseguimos compreender. O inglês muda, o português muda, o francês muda, todas as línguas mudam, exceto o latim, por isso sua importância.
O latim é um só. Nós estudamos o mesmo latim de Cícero, que foi o de Virgílio, e até mesmo de Plauto. Por mais de 2000 anos ele é comum, usado na ciência, na teologia, filosofia, arte, em todas as áreas possíveis.
Atualmente, o inglês é considerado uma língua internacional, que usamos para comunicar e aprender com todas as outras pessoas, por todo o mundo. Embora, isso não faz mais de 100 anos e não sabemos se ele ficará vivo por mais de 2000 anos. E provavelmente não.
Latim em nosso cotidiano
Para ver o latim de pertinho, basta dar uma voltinha no supermercado ou ler alguns livros. Aqui vai alguns exemplos de como essa língua morta conquistou os publicitários:
Provavelmente, você nem sabia que essas marcas estão em latim, já que estamos acostumados com o uso de palavras em inglês. Ao utilizar essas expressões latinas, os publicitários querem trazer uma maior credibilidade ao produto, além de remeter ao moderno e antigo.
Além disso, ainda tem algumas expressões que usamos no dia a dia, veja:
A priori = a princípio
Aliás = expressão utilizada para retificar algo, “de outro modo”.
Carpe diem = aproveite o dia.
Corpus Christi = corpo de Cristo.
Data venia = significa “com o devido respeito”.
Et cetera (etc) = significa “e outros”.
In loco = no local.
Mea culpa = minha culpa
Modus operandi = modo de agir
Sui generis = significa “de seu próprio gênero”.
Vade mecum = vem comigo (expressão utilizada para instruir o leitor a realizar determinadas tarefas)
Curriculum Vitae = significa “trajetória de vida”.
Viu só? Não podemos reviver o latim, entretanto, ele sempre estará vivo por toda a humanidade. Assim, podemos ter acesso a 2000 anos de tradição e ainda usar em nosso cotidiano. Viva esta língua morta!
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Fontes: Schola Clássica e Português
Imagem destacada: Deuses Anunnaki