Clarice Lispector, quem foi? Biografia, influência e principais obras

Clarice Lispector é um dos nomes que mais se destacam na história da literatura brasileira, contando com um indescritível legado.

Clarice Lispector, quem foi? Biografia, influência e principais obras

De acordo com as palavras da própria Clarice Lispector, “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. Como resultado disso, ela que é considerada, juntamente com Guimarães Rosa, a grande escritora brasileira da segunda metade do século XX, não se definia como escritora.

Sem saber ao certo quando começou a escrever, Clarice revelou que desde criança fabulava e escrevia pequenas histórias. Mais tarde, já na adolescência, passou a se expressar de forma caótica, intensa e inteiramente fora da realidade da vida. Esses foram os primeiros passos para sua escrita introspectiva e psicológica.

Escrevendo apenas pela paixão e pela vontade de se expressar, Lispector deixou um legado involuntário. Embora nunca tenha mirado em um público, conseguiu transcender gerações com suas palavras. Dessa forma, mais de quatro décadas desde sua morte, Clarice Lispector segue sendo um dos nomes mais influentes no Brasil.

Como nasceu Clarice Lispector?

A pequena Chaya Pinkhasovna Lispector se tornou Clarice

Entre os anos de 1917 e 1922, acontecia na Rússia uma Guerra Civil. Em meio aos conflitos, os judeus passaram a ser perseguidos e um casal de ascendência judaica se viu diante de uma grande encruzilhada. Pinkhas e Mania Lispector moravam em Tchetchelnik, na Ucrânia, e estavam prestes a ter um bebê nesse cenário caótico.

Assim, no dia 10 de dezembro de 1920, nasceu Chaya Pinkhasovna Lispector que, durante seus primeiros meses de vida, teve de fugir da Guerra Civil Russa para um país estrangeiro e completamente desconhecido. Dessa forma, em 1921 a família Lispector desembarcou no Brasil e se instalou na cidade de Maceió, Alagoas.

Como forma de encobrir os rastros de sua fuga, o patriarca da família sugeriu que todos mudassem de nome. Como resultado disso, Pinkhas se tornou Pedro, Mania virou Marieta e a pequena Chaya, com apenas dois meses de vida, nasceu de novo, dessa vez como Clarice Lispector.

Infância e juventude

Clarice Lispector, quem foi? Biografia, influência e principais obras
Ainda muito nova Clarice aprendeu a ler e escrever e logo começou a produzir pequenos contos

Após passar seus primeiros anos em Maceió, Clarice Lispector se mudou com a família para Recife aos cinco anos de idade. Ali, na capital pernambucana, Lispector passou sua infância. Ainda muito nova, ela aprendeu a ler e escrever e logo começou a produzir pequenos contos.

Quando Clarice tinha 10 anos, sua família decidiu se mudar novamente, dessa vez para o Rio de Janeiro. Apesar de terem passado por algumas dificuldades financeiras, a educação das crianças nunca deixou de ser uma prioridade. Então, a geração mais nova dos Lispector sempre frequentou os melhores colégios públicos locais.

Como resultado disso, desde muito nova Clarice estudou várias línguas. Só para ilustrar, português, francês, hebraico, inglês, iídiche – idioma de seus pais – são alguns dos idiomas com os quais ela teve contato. Embora fosse uma boa aluna nas matérias em geral, seu encanto estava voltado para a literatura.

Em 1939, aos 19 anos, Clarice Lispector ingressou na Escola de Direito da Universidade do Brasil. Ali ela acessou também os cursos de antropologia e psicologia e conheceu aquele que viria a se tornar seu marido, o Diplomata Maury Gurgel Valente.

Casamento, maternidade e morte

Segundo Clarice, suas características maternais facilitavam sua comunicação com as crianças

Embora tenha estudado direito, Clarice Lispector seguiu a carreira de jornalista. Em sua passagem pela profissão, ela atuou como redatora e repórter em veículos como Agência Nacional, Correio da Manhã e Diário da Noite. Contudo, em 1943 ela casou-se e passou a acompanhar o marido em suas viagens internacionais.

Enquanto morava no exterior, Clarice teve dois filhos: Pedro e Paulo. Além disso, devido à profissão de seu marido, ela viveu em muitos países do mundo, como Itália, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos. Durante esse período, ela não deixou de escrever, porém se dedicava também a outras atividades.

Com a Europa em guerra, Clarisse chegou a ingressar como voluntária na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira. Todavia, em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro com os filhos.

Após retornar ao Brasil, Clarice se dedicou integralmente à escrita. Além de romances, contos e crônicas, Lispector se aventurou pela literatura infantil, sendo altamente premiada na área. Segundo a mesma, suas características maternais facilitavam sua comunicação com as crianças.

No dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu aniversário de 57 anos, Clarice Lispector faleceu precocemente no Rio de Janeiro, vítima de um câncer de ovário. Entretanto, a enigmática artística deixou no plano terreno um indescritível legado.

A escrita de Clarice

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Precursora de um romance inovador e uma linguagem poética, Lispector é incomparável

Apesar de ser considerada uma das mais notáveis escritoras da terceira fase do modernismo brasileiro, Clarice Lispector nunca se intitulou escritora e nem limitou seu trabalho a um movimento, gênero ou estilo. Precursora de um romance inovador e uma linguagem poética, Lispector é incomparável.

Clarice só escrevia porque e quando queria e, por isso, se descrevia como uma amadora. De acordo com ela, um escritor profissional é aquele que tem uma obrigação de escrita consigo mesmo ou com o outro. Contudo, Lispector prezava por sua liberdade, então não fazia questão de profissionalismo algum.

Dona de uma personalidade enigmática, tímida e ousada, Clarice foi e continua sendo inigualável. Após sua morte, o título de escritora se tornou inerente ao seu nome. Além disso, sua escrita passou a ser classificada como intimista e psicológica.

Por vezes chamada de hermética, Clarice Lispector sempre fez questão de frisar que escrevia de maneira simples. Embora não se importasse em ser ou deixar de ser compreendida. Quanto às temáticas de sua obra, as mesmas eram diversas e flanavam do social ao existencial.

Entretanto, uma característica inegável da escrita de Clarice é que, independente do tema e das diversas abordagens sobre o mesmo, Lispector sempre apresentava uma perspectiva inédita. Inclusive, ela pode ser considerada uma das escritoras mais inovadoras da história e isso é notável em sua obra.

Obras de Clarice Lispector

No dia 9 de dezembro de 1977, Clarice Lispector faleceu precocemente, deixando um indescritível legado

Em 1940, Clarice Lispector publicou seu primeiro conto, intitulado O Triunfo. Quatro anos mais tarde, seu primeiro romance foi lançado. Perto do Coração Selvagem retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência e foi responsável por abrir uma nova tendência na literatura brasileira.

Visto que a narrativa quebra a estrutura padrão de início, meio e fim, bem como a ordem cronológica e ainda funde prosa e poesia, o romance espantou a crítica e o público. Porém, houve quem tenha classificado o livro como a maior obra já escrita por uma escritora brasileira, até então.

Durante seu trabalho no Jornal Correio da Manhã, ela assumiu a coluna Correio Feminino. Em seguida, no Diário da Noite, Clarice escreveu na coluna Só Para Mulheres. Todavia, em 1960, ela retornou à sua grande paixão e lançou Laços de Família, um premiado livro de contos.

Em 1963 Clarice publicou A Paixão Segundo G.H., que é considerada sua maior obra. Em 1967, ela se aventurou pela literatura infantil e lançou O Mistério do Coelhinho Pensante e publicou crônicas no Jornal do Brasil. Por fim, em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida.

Dos 19 aos 57 anos incompletos, Clarice escreveu 85 histórias, sempre experimentando e ousando, porém nunca deixando de ser convidativa e contemplativa.

E então, o que achou da matéria? Se gostou, leia também: Literatura Brasileira – Definição, história, divisão e principais características.

Fontes: Toda Matéria, eBiografia.com, El País.

Imagens: vos.social, Guia do Estudante, G1, Twitter, Jornal Rascunho, Zenda.

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