O Estado do Ceará foi pioneiro na abolição da escravidão no Brasil, ao realizá-la em 13 de maio de 1884. Portanto 4 anos antes da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
A ação partiu da iniciativa de um jangadeiro chamado Francisco José do Nascimento. Ele incitou os demais a não mais transportarem escravos do porto aos navios.
A iniciativa foi abraçada pelos demais seguimentos da sociedade, posteriormente oficializada pelo governo cearense.
Contexto Histórico
O Estado do Ceará era uma rota para envio de negros para as lavouras do Sul do Brasil. Só que o porto de Fortaleza era raso, de tal forma que necessitavam de jangadas para chegar aos navios.
Os jangadeiros tinham um líder, que ocupava o cargo de Prático na Capitania dos Portos. Seu nome era Francisco José do Nascimento ou Chico da Matilde.
Por ser um abolicionista e inconformado com o destino dos escravos, Chico convence os colegas a cessarem os embarques. Era o mês de janeiro de 1881, época em que ainda persistia a escravidão no Brasil.
Ele fez uma proclamação famosa, posto que anunciou que no Porto de Fortaleza não seriam mais embarcados escravos.
Alarmado com a situação e pressionado pelos mercadores de gente, o governo enviou tropas, só que foi inútil. Não houve como obrigar os jangadeiros a retornarem ao trabalho. Então, em represália, o líder é demitido do posto que ocupava.
A iniciativa tem outros adeptos
Animados pela iniciativa dos jangadeiros, outros movimentos abolicionista eclodem no país. No dia 10 de janeiro de 1883, a Sociedade Cearense Libertadora alforriou vários escravos. Eles trabalhavam na Vila de Aracape, atualmente a Cidade de Redenção.
O próprio José do Patrocínio, famoso abolicionista nacional, se fez presente no movimento cearense. E em setembro de 1883, a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, também aboliu a escravidão.
A abolição da escravidão no Ceará
Seguindo a ousada atitude de Chico da Matilde, os abolicionistas cearense resolvem pressionar o governo. Entre eles estavam intelectuais, componentes da elite econômica e inclusive militares.
E foi assim que, no dia 25 de março de 1884, num ato oficial o Ceará declarou a libertação de todos seus escravos. Era Presidente da Província Satiro de Oliveira Dias, por isso o primeiro governante nacional a praticar tal ato.
A ousadia cearense repercutiu em âmbito nacional, posto que pressionou o Império a tomar atitude semelhante. Um ano depois, para acalmar os ânimos, é decretada a Lei do Sexagenário, alforriando escravos com mais de 60 anos.
No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a grandiosa Lei Áurea. Mas o gatilho para a abolição nacional foi acionado quatro anos antes no Ceará.
Você sabia?
Chico da Matilde foi reconhecido em vida, tendo sido apelidado de Dragão do Mar. Ao visitar o Rio de Janeiro, recebeu aclamações de louvor em via pública. Sua jangada histórica foi para o Museu Nacional.
O Dragão do Mar foi retratado na capa da Revista Ilustrada, com desenho alegórico de Francisco Nascimento. No Carnaval do Rio de Janeiro 2019, a Mangueira foi campeã com um enredo sobre os esquecidos pela História, entre eles o Chico da Matilde.
Não é legal saber que o Ceará aboliu a escravidão antes da Lei Áurea? Pois então leia também sobre como eram os navios negreiros que traziam os africanos para o Brasil.
Fonte: Observatório 3, Almanaque Brasil, Unilab, O Povo, O Estado, Geledes, Edjovem, BBC, Tribunal do Ceará, Mucambo pra Valer, UECE.
Fonte das imagens: Appai, Professor Dragão do Mar, Wikipédia, Portal TV Cariri.