Memória – Característica, mecanismo, tipos e perda da memória

A memória é um dos processos psicológicos mais importantes, porque é através dele que conseguimos aprender e relembrar fatos do passado. Entenda tudo sobre esse processo.

Memória – Característica, mecanismo, tipos e perda da memória

Sabe aquelas lembranças da infância, ocorridas há anos atrás, mas que você ainda consegue recordá-las com riquezas de detalhes? Ou o fato de que, mesmo depois de anos sem subir em um bicicleta, se você pegar uma agora, ainda consegue andar. Então, tudo isso só é possível graças à memória.

A memória é um dos processos psicológicos mais importantes, porque está ligado diretamente à nossa identidade pessoal, e nos guia diariamente. Além disso, também está relacionada a outras funções corticais essenciais, como o aprendizado.

Portanto, entendemos esse processo psicológico como um armazenamento de informações, e fatos gerados a partir das nossas experiências, vividas ou ouvidas. E é justamente por isso que ela está ligada à aprendizagem, que é a obtenção de novos conhecimentos. Dessa forma, usamos a memória para reter as novas informações que recebemos constantemente, no cérebro.

Sendo assim, hoje iremos aprender tudo sobre esse processo psicológico, seus mecanismos, e os tipos. Vamos lá.

Características

A palavra memória é derivada do latim memorĭa e significa “faculdade psíquica através da qual se consegue reter e (re)lembrar o passado”.

No entanto, não se trata de um processo psicológico simples, uma vez que há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena essas informações. Assim sendo, temos a memória de procedimento e a memória declarativa. Portanto, as duas formas são completamente distintas, tanto no que diz respeito aos mecanismos cerebrais envolvidos, quanto nas suas estruturas anatômicas.

Memória de Procedimento

A memória de procedimento, também conhecida como implícita, é aquela que armazena dados relacionados à obtenção de habilidades diante da repetição de um padrão. Sendo assim, inclui todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais. Ou seja, todos os processos que fazemos sem precisar pensar sobre como fazer.

Sendo assim, existem três tipos de capacidades:

  • Adquirida: ocorre quando se percebe algo previamente. É o caso de reconhecer alguma música ao ouvir os primeiros acordes.
  • De procedimento: capacidade de fazer processos sem pensar diretamente neles. Um exemplo clássico, é o andar de bicicleta.
  • Associativa: trata-se da resposta natural a algum estímulo externo, como salivar ao ver uma carne saborosa.

Memória Declarativa

Já a memória declarativa, ou memória explícita, armazena e evoca informação de fatos e de dados trazidos ao nosso conhecimento. Isso se dá por meio dos sentidos e dos processos internos do nosso cérebro, como associação de dados, dedução e formulação de ideias.

Portanto, existem dois subgrupos de memórias declarativas, sendo elas:

  • Episódica: fatos vivenciados pela pessoa, relacionada a eventos e datas bem delimitados. Por exemplo, a recordação do seu casamento.
  • Semântica: informações adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora. Por exemplo, você sabe o que é um lápis, placa, boca…
Memória visual.

Tipos de memória

Contudo, ao analisar a memória de acordo com o tempo de armazenamento de informações, ela pode ser classificada em três tipos: memória de trabalho, memória de curto prazo e memória de longo prazo. Vejamos o que são cada uma delas a seguir:

Memória de Trabalho

A chamada memória de trabalho, conhecida também como memória imediata, atua apenas no momento em que a informação está sendo adquirida. Dessa forma, essa informação fica retida por alguns segundos, e posteriormente é destinada para ser guardada ou descartada.

Como o exemplo da situação a seguir:

Quando você quer pedir uma pizza por telefone, você vai até o imã da geladeira e olha o número. Assim, você consegue guardar a memória do número até chegar ao telefone e discar. Dessa forma, quando uma informação temporariamente armazenada perde sua utilidade, ela é descartada, e geralmente, esquecida. Portanto, é bem provável que você esqueça o número de telefone da pizzaria logo depois de ter discado.

Memória de Curto Prazo

Já a memória de curto prazo funciona com dados por algumas horas até que sejam armazenados de forma definitiva. Sendo assim, esse tipo de memória é muito importante para os dados de teor declarativo.

Memória de Longo Prazo

Por fim, a memória de longo prazo ou de longa duração (MLD). Esse tipo de memória é a que armazena informações por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo décadas.

Então, é na memória de longo prazo que ficam armazenados todos os dados autobiográficos e todo o nosso conhecimento.Um exemplo claro de memória de longo prazo, são as recordações que temos de momentos da infância.

Sendo assim várias estruturas cerebrais estão envolvidas no processo de aquisição e armazenamento de dados. Vejamos a seguir:

Mecanismo da Memória

A memória é um processo psicológico que ainda está em fase de descobrimento. Sendo assim, ainda não se sabe com certeza o mecanismo pelo qual o cérbero adquire, armazena e trás a tona essas informações. Contudo, vejamos alguns modelos propostos para tentar explicar essa função tão importante.

1° modelo: esse modelo tem como base a atividade elétrica cerebral. Assim, a informação seria guardada em circuitos elétricos, ditos reverberantes. A evidência desse mecanismo é obtida pela existência de conexões neuronais recorrentes, ou seja, por ramificações da célula nervosa (neurônio) que voltam ao seu próprio corpo, estimulando-a. É possível que esse mecanismo esteja presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e de curto prazo.

2° modelo: esse modelo baseia-se na produção de substâncias químicas que converteria um código relacionado. Ele supõe que os neurônios possam sintetizar ARN (ácido ribonucleico), e que essa substância conteria um código da memória da mesma forma que o ADN (ácido desoxirribonucleico) contém a codificação genética. Embora se tenha verificado aumento da síntese de ARN em fases de aprendizado, atualmente acredita-se que essa síntese seja responsável mais pelo funcionamento celular do que pela criação de um código químico.

3° modelo: conhecido como modelo conexionista, pressupõe a alteração das conexões entre os neurônios. A transmissão do impulso nervoso é feita no ponto de encontro dessas ramificações com a célula alvo, ponto esse denominado sinapse. A hipótese é que haveria alteração da função sináptica criando novos circuitos neuronais e seriam esses circuitos que codificariam as informações. Esse modelo tornou-se bastante plausível depois que se comprovou, experimentalmente, o aumento da resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos.

Conclusão

Sendo assim, o que sabemos até aqui, é que as informações que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural. Ou seja, os dados recebidos ativam uma rede de neurônios, que caso seja reforçada, resultará na retenção dessa informação. Portanto, a repetição é uma estratégia necessária para a memória.

Um exemplo disso, é o número do nosso celular ou do telefone de casa, que não esquecemos, porque repetimos essa informação diversas vezes ao longo do tempo. Sendo assim, esse processo interfere diretamente na memorização do número, justamente porque toda vez que repetimos os estímulos, ativamos o mesmo circuito neural. Então, a ativação contínua reforça esse circuito, e assim se torna mais fácil a evocação dessa informação armazenada.

Contudo, armazenar informações não significa apenas colocá-las dentro de determinados neurônios, como se estes fossem um tipo de armário. O armazenamento só é possível graças à neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o cérebro tem de se transformar diante de pressões (estímulos) do ambiente.

A partir disso, podemos concluir que as informações ficam armazenadas em regiões difusas do cérebro. Dessa forma, envolvendo várias redes complexas de neurônios, as quais se modificam para guardar todas essas informações.

Perda da Memória

A perda ou interferência nesse processo psicológico pode estar relacionada a várias doenças neurológicas, distúrbios psicológicos, problemas metabólicos e até intoxicações. Mas, o meio mais comum é através da esclerose ou demência. Assim, a demência mais comum é o Alzheimer, caracterizado pela perda acentuada da memória, seguida de graves manifestações psicológicas.

Porém, existem ainda algumas doenças e injúrias no cérebro que causam séria perda da memória e podem ainda interferir na capacidade de aprendizagem, como a amnésia, por exemplo.

Amnésia

A amnésia é uma entidade patológica provocada por diversas causas, e é caracterizada pela perda da capacidade de reter informações novas (amnésia anterógrada) ou de evocar as antigas (amnésia retrógrada). Desse modo, quase sempre são causadas por agressões graves ao cérebro. Contudo, pode ter caráter transitório (temporário) ou permanente.

Vejamos alguns tipos de amnésias:

  • Síndrome de Korsakoff: doença descrita como decorrência do alcoolismo crônico. A amnésia anterógrada é característica dessa síndrome.
  • Amnésia traumática: mesmo que não percam a consciência, pessoas que sofrem um trauma de crânio de certa intensidade, esquecem dos fatos que ocorreram minutos antes do trauma e dos fatos que ocorreram após o trauma.
  • Amnésia global: esse tipo de amnésia está correlacionado com grave e difuso comprometimento cerebral. De forma definitiva, instala-se a amnésia tanto anterógrada quanto retrógrada.
  • Amnésia global transitória: nessa situação, a amnésia dura algumas horas, não ultrapassando um dia, e a recuperação é completa. O indivíduo tem comportamento normal, mas não retém nenhuma informação durante o episódio.
  • Amnésia pós-operatória: há cerca de 50 anos, para poder tratar um paciente com crises convulsivas que não respondia ao tratamento com remédios, um neurocirurgião fez uma cirurgia para retirar, de ambos os lados, certas partes do lobo temporal. Esse paciente obteve controle das crises, mas ficou com amnésia anterógrada muito intensa.

Esquecimento

Diferentemente da da amnésia, em que há perda de uma capacidade, o esquecimento é uma falha na retenção ou na evocação dos dados. Desse modo, o principal ponto referente ao esquecimento, é identificar a sua causa.

Enquanto uns acreditam que acontece uma debilitação dos traços de memória com o passar dos anos, outros apontam que novos conhecimentos podem interferir e prejudicar a memória.

Então, como visto anteriormente, o desuso causa um enfraquecimento dos circuitos da memória, o que faz com que seja cada vez mais difícil acessar essas informações. Contudo, isso pode explicar apenas uma parte do problema.

Sabemos que com a idade, as pessoas apresentam maiores dificuldades em se lembrar de fatos passados. No entanto, essa dificuldade é mais intensa quanto a fatos recentes, tanto que lembranças remotas marcantes, embora não utilizadas com frequência, ainda podem ser lembradas facilmente, até mesmo os detalhes.

Levando em consideração o processo de interferência, sabemos que um novo aprendizado pode interferir em um antigo. Portanto, a cada nova informação armazenada, há uma modificação naquelas já armazenadas. Desse modo, o acúmulo de informações, ao longo da vida, poderia fazer com que pessoas em idades mais avançadas, tivesse mais dificuldades em trazer á tona essas memórias.

Em suma, nenhuma dessas causas explica completamente como se da o esquecimento, mas também não podem ser descartadas como parte do problema.

Fatores que podem causar perda total ou parcial da Memória

  • Falta de vitamina B1 e o alcoolismo, podem levar a perda da memória de fatos recentes;
  • Doenças de tireoide, como hipotireoidismo;
  • Uso de medicamentos, como calmantes, por tempo prolongado;
  • Fumo, quebra a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, assim afetando a memória;
  • Cafeína;
  • Vida sedentária com excesso de preocupações e insatisfações;
  • Tumor cerebral;
  • Encefalite.

Como melhorar a Memória

Felizmente existem muitas coisas que podem ser feitas para praticar a memória. Vejamos a seguir algumas técnicas e cuidados para cuidar da sua saúde e melhorar a memória:

  • Estimular a memória: utilize ao máximo a sua capacidade mental. Desafie o novo. Aprenda novas habilidades. Isto poderá estimular os circuitos neurais do seu cérebro a crescerem;
  • Prestar atenção: não tente guardar todos os fatos que acontecem, mas focalize sua atenção e se concentre naquilo que você achar mais importante. E assim, procure afastar de si todos os demais pensamentos;
  • Relaxar: é impossível prestar atenção se você estiver tenso ou nervoso. Sendo assim, prenda a respiração por dez segundos e vá soltando-a lentamente;
  • Associar fatos a imagens: aprenda técnicas mnemônicas. Elas são uma forma muito eficiente de memorizar grande quantidade de informação;
  • Alimentos: algumas vitaminas são essenciais para o funcionamento apropriado da memória: tiamina, ácido fólico e vitamina B12;
  • Água: de acordo com a Dra.Turkington, a falta de água no corpo tem um efeito direto e profundo sobre a memória;
  • Sono: a fim de conseguir uma boa memória, é fundamental que se permita um sono suficiente e o descanso do cérebro.

Enfim, o que você achou dessa matéria? Aproveite também para testar a sua memória com esse teste.

Fontes: Drauzio Varella Uol, Brasil Escola, Scielo, Saúde Abril, Cérebro & Mente Conceito de

Fonte Imagem Destaque: Hypescience

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