Fernando Pessoa é o nome por trás da famosa frase “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Assim como a própria oração sugere, o escritor, poeta, redator e tradutor guardava consigo muitos sentimentos, desejos e ambições. Como resultado disso, Pessoa precisou se fragmentar para expressar tudo que guardava em si.
Descrito como uma figura multifacetada, Pessoa ficou conhecido pelos seus diversos heterônimos. Isso significa que o autor aderiu ao desdobramento do “eu”, assumindo assim outras personalidades literárias e multiplicando sua identidade.
Um grande marco na literatura portuguesa e mundial, Fernando Pessoa é um dos destaques do Modernismo lusitano. Embora seja reconhecido por sua escrita lírica, nacionalista, introspectiva e inquieta, Pessoa não se limitou à área narrativa.
Além de ter atuado como crítico literário e político, editor e jornalista, Pessoa se aventurou como publicitário, empresário e astrólogo.
Como nasceu Fernando Pessoa?
No dia 13 de junho de 1888, nasceu em Lisboa, Fernando Antônio Nogueira Pessoa. Filho de Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, Fernando conheceu, já aos cinco anos de idade, o luto após perder o pai para a tuberculose. Esse evento o marcaria pelo resto de sua vida.
Infância e juventude
Com apenas 7 anos, Fernando Pessoa criou aquilo que viria a se tornar sua marca registrada: seu primeiro heterônimo. Chamada Chevalier de Pas, essa identidade foi revelada pelo próprio Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, um colega poeta. Nessa mesma época, Pessoa escreveu seu primeiro poema intitulado À Minha Querida Mamã.
Sendo assim, é notável que desde pequeno Fernando Pessoa possuía uma inclinação para as letras, línguas e literatura, algo que só evoluiu com o passar dos anos e foi bastante reforçado em sua educação. Aliás, em 1895, sua mãe casou-se novamente, a família se mudou para a África do Sul e Pessoa passou a receber educação inglesa.
João Miguel Rosa, o padrasto de Fernando Pessoa, foi um renomado comandante militar. Como resultado de seu trabalho, a família Pessoa o acompanhou em suas mudanças, o que permitiu que o jovem Fernando explorasse novos ares.
Na adolescência, Pessoa foi descrito como um rapaz tímido, mas inteligente. Além disso, ele era um bom aluno e dono de grande imaginação. Aos 16 anos já havia lido grandes autores da língua inglesa, como William Shakespeare, John Milton e Edgar Allan Poe.
Sua família o considerava afetuoso e amável, mas muito reservado. Posteriormente, foram descobertos estudos indicando que ele teve uma vida discreta e livre. Esses estudos também sugerem que ele poderia ser diagnosticado como bipolar.
Carreira, heterônimos e morte
Em 1902, ainda com 14 anos, Fernando Pessoa e família voltaram para Lisboa. Porém, no ano seguinte, o jovem retornou sozinho para a África do Sul e frequentou a Universidade de Cape Town. Passados dois anos, Pessoa regressou a Lisboa e matriculou-se na Faculdade de Letras, abandonando o curso no ano seguinte.
Após suas idas e vindas no universo acadêmico, Pessoa preferiu estudar por conta própria na Biblioteca Nacional. Visando aperfeiçoar sua leitura e escrita, o escritor recusou vários bons empregos. Assim, apenas em 1908, ele passou a trabalhar como tradutor autônomo em escritórios comerciais.
Com cerca de 22 anos, Fernando Pessoa já havia redigido ensaios, peças de teatro, novelas, críticas literárias, entre outros. Curiosamente, ele dedicou-se também à astrologia e à publicidade.
Em 1912, Pessoa deu início à sua trajetória em revistas. Inicialmente, ele estreou como crítico literário na revista Águia, em seguida atuou como poeta em A Renascença no ano de 1914. Contudo, foi a partir de 1915 que ele se juntou a outros jovens e fundou a revista Orpheu.
Definida como porta-voz dos ideais de renovação futurista, a Orpheu defendia liberdade de expressão em um contexto político instável e opressor. Aliás, foi nessa época que Pessoa criou seus heterônimos principais, cada um deles contando com sua própria biografia e forma de enxergar o mundo.
Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, Portugal, no dia 30 de novembro de 1935, aos 47 anos. O escritor foi vítima de cirrose hepática. Embora tenha contado com uma morte precoce, Pessoa deixou um legado de mais de 25 mil manuscritos contendo poesias, peças de teatro, contos, ensaios filosóficos, críticas literárias e cartas astrológicas.
Principais heterônimos de Fernando Pessoa
Há quem diga que Pessoa contou com dezenas de heterônimos. Entretanto, apenas alguns foram oficializados até então, sendo eles:
- Alberto Caeiro: engenheiro órfão criado pela tia, era influenciado pelo simbolismo e futurismo. Assim como o pai de Pessoa, morreu de tuberculose em 1915;
- Ricardo Reis: médico que exilou-se no Brasil, era um bucólico que admirava a cultura clássica;
- Bernardo Soares: um alter ego de Pessoa. Visto que o poeta projetou nele algumas de suas características, esse é considerado um semi-heterônimo;
- Álvaro de Campos: talvez o mais importante heterônimo de Fernando Pessoa, foi um engenheiro de temperamento rebelde e agressivo. Apesar da poesia simples, direta e concreta, transpassa revolta e inconformismo em seus versos.
A escrita de Fernando Pessoa
Em sua escrita, Pessoa gostava de fazer reflexões sobre identidade, verdade e existencialismo. Porém, ele nunca deixava de lado sua profunda ligação com Portugal, o que o tornava indissociável do caráter nacionalista. Além disso, segundo ele, ser poeta e escritor não era uma profissão, mas uma vocação.
Assim como mencionado acima, Pessoa pertence ao movimento Modernista. Logo, suas obras contém características diferenciadas e inovadoras para a época. O próprio recurso da heteronímia o torna um artista múltiplo. Assim, os temas abordados por ele são variados.
Principais obras
Em 1901, Fernando Pessoa publicou seus primeiros poemas, em inglês. Todavia, suas publicações só vieram a a ganhar destaque na revista Orpheu, onde os poemas de Pessoa escandalizaram a sociedade conservadora da época.
Só para ilustrar, Ode Triunfal e Opiário, escritos sobre o heterônimo Álvaro de Campos, provocaram reações violentas por parte do público. Em contrapartida, o poema O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, mostra a forma simples e natural de sentir e a obra de Ricardo Reis é a ode clássica, cheia de princípios aristocráticos.
Em 1934, Pessoa publicou seu primeiro e único livro em vida: A Mensagem. A narrativa se trata de uma réplica à Os Lusíadas a partir de uma perspectiva nacionalista mística. Além disso, Livro do Desassossego, Poemas completos de Alberto Caeiro e Poesias integram as quatro obras publicadas por Pessoa em vida.
E então, o que achou da matéria? Se gostou, confira também: Características do Modernismo – Origem, elementos e fases no Brasil.
Fontes: eBiografia.com, Toda Matéria, Brasil Escola.
Imagens: Poetry Foundation, Correio Braziliense, Blog Letras, Deus Me Livro, Jornal de Leiria, Carta Capital, Shifter, Literatura é Bom Pra Vista.