Cisma do Ocidente – História, conflitos e a origem do Antipapa

O Cisma do Ocidente foi um período de imensa instabilidade e fragmentação que afetou a Igreja Católica, o cristianismo europeu e o Papado.

Cisma do Ocidente - História, conflitos e a origem do Antipapa

Atualmente, o Papa é escolhido através de um conclave. Isso significa que, após sua morte ou renúncia, há uma reunião do Colégio dos Cardeais no Vaticano e, através de uma votação secreta, o novo líder da Igreja Católica é escolhido. Porém, a eleição do Papa nem sempre foi organizada assim e o Cisma do Ocidente é a prova disso.

Intitulado o Grande Cisma do Ocidente, o período de crise papal ocorrido no fim da Idade Média fragmentou o cristianismo europeu. Durante quarenta anos, o poder da Igreja Católica ficou dividido entre dois – às vezes três –  Papas. Além disso, essa disputa pelo poder sacerdotal acabou originando outra figura: o Antipapa.

Ao longo de sua história, a Igreja Católica protagonizou rupturas importantes. Esses cismas ou separações foram iniciados pelo Cisma do Oriente, em 1054; seguido pelo Cisma do Ocidente, que se estendeu de 1378 a 1417; e a Reforma Protestante, em 1517.

Todavia, o que exatamente originou o Grande Cisma do Ocidente e quais foram suas consequências?

Contexto histórico

O Cisma do Ocidente surgiu num contexto de crise na Europa no fim da Idade Média

O Cisma do Ocidente foi ambientado em um momento de crise no século XIV. Assim como mencionado acima, a Europa estava saindo da Idade Média e essa transição, por diversos motivos, não foi nada fácil. Após um período de prosperidade e crescimento econômico, os avanços foram estagnados por:

  • Crescimento incontrolável da população: o que resultou em um colapso demográfico;
  • Peste Negra: a pandemia mais devastadora da história até o surgimento do Covid-19;
  • Instabilidade política: ocasionada por diversas revoltas e guerras;
  • Declínio do feudalismo: o sistema estava se tornando ultrapassado e insuficiente o que originou a busca por novas fontes de lucro que envolviam guerras e banditismo;
  • Fome: consequência dos demais fatores citados acima.

Logo, a Igreja Católica foi perdendo poder gradativamente, até não ter mais um papel sociocultural hegemônico. Em contrapartida, os monarcas europeu começaram a se fortalecer.

O processo de fragmentação do poder papal

Cisma do Ocidente - História, conflitos e a origem do Antipapa
O conflito de interesses entre Filipe IV, o rei da França, e o Papa Bonifácio VII deram início ao Cisma do Ocidente

Visto que o poder da monarquia europeia estava em ascensão, Filipe IV, o rei da França, decidiu cobrar impostos da Igreja. Enquanto o monarca buscava aumentar sua renda orçamentária, o Papa Bonifácio VII, conhecido pela vontade de estabelecer uma teocracia pontifícia e se tornar imperador, não ficou nada satisfeito com a imposição.

Assim, após se opor à cobrança de Filipe IV, o Papa ainda o ameaçou de excomunhão. Diante da divergência de interesses e temeroso após as ameaças papais, o rei francês convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Dessa forma, reunindo o clero, a nobreza e os comerciantes das cidades, foi decidida a cobrança dos impostos clericais.

Tal determinação acabou acirrando o conflito entre a Coroa Francesa e o Papado. Poucos meses depois, Bonifácio VIII acabou falecendo sob suspeita de envenenamento. Em seguida, Filipe IV aproveitou a oportunidade e, após pressionar o clero, conseguiu eleger um Papa francês. Dessa forma, o Papa Clemente V entrou para a história.

Além disso, para manter um controle mais rígido sobre o Papado e não se ver em posição de ameaças novamente, o monarca francês obrigou o novo Papa a se instalar em território francês, deixando vago o trono do Papa em Roma e iniciando o cisma ocidental.

O Cativeiro de Avignon

A fim de controlar o exercício papal, Filipe IV obrigou o novo Papa a se instalar em território francês

Sendo assim, nos anos de 1305 e 1376 . Essa alteração geográfica foi bastante simbólica e passou a significar que a Igreja estava sob domínio francês. Esse período ficou conhecido como Cativeiro de Avignon e é marcado pelo poder dos reis capetíngios.

Porém, após uma linhagem de diversos Papas e Cardeais submissos, o sacerdote Gregório XI, também francês, decidiu retornar a sede papal para Roma. Seguindo essa alteração, ele faleceu. Consequentemente, em 1378 o novo Papa foi escolhido: o Cardeal napolitano Bartolommeo Prigano, arcebispo de Bari, foi eleito Urbano VI.

É importante frisar que, mesmo contando com a reprovação da França, o novo Papado contou com aceitação de outros países europeus como: Hungria, Noruega, Suécia, Irlanda, Flandres, Dinamarca e Inglaterra.

Consequências do retorno da sede papal à Roma

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O sacerdote Gregório XI, também francês, decidiu retornar a sede papal para Roma

De 1378 até 1389, Urbano VI se manteve na posição de Papa e seguiu recusando a se instalar em Avignon. Como resultado disso, grande parte da população francesa ficou insatisfeita e passou a considerá-lo uma escolha ilegítima. Apesar das represálias, o Papa se manteve inflexível.

Todavia, Urbano VI ficou conhecido por ser uma figura inconstante e autoritária que protagonizou vários atritos com os Cardeais. Como resultado disso, um grupo de 13 Cardeais insatisfeitos se uniu à Rainha Joana I, de Nápoles, e anularam a eleição de Urbano VI.

Assim, pouco mais de um mês depois, eles elegeram o Cardeal de Genebra como Papa Clemente VII. A sede de seu Papado se manteve em Avignon e Clemente VII ficou conhecido como Antipapa. Esse foi o estopim para o Cisma do Ocidente, já que haviam dois Papas existindo simultaneamente.

O cisma dentro do Cisma do Ocidente

Cada um dos reinos europeus apoiava seu próprio Papa ou Antipapa

Da mesma forma que alguns países apoiaram e seguiram apoiando o Papa eleito em Roma, outros países europeus legitimaram a atuação da sede de Avignon. Além da França, Escócia, Chipre, Borgonha, Saboia e os reinos espanhóis de Aragão, Castela e Leão ficaram ao lado do Antipapa.

Apesar de seu enfraquecimento hegemônico, a Igreja Católica seguia sendo altamente influente no mundo. Logo, o conflito rapidamente deixou de ser um assunto religioso e se tornou um incidente diplomático que dividiu a Europa. Os papas excomungaram-se mutuamente e cada um estabeleceu sua própria administração.

O Cisma do Ocidente levou a uma sucessão de papas nas duas cidades (Roma e Avignon) até o seu fim em 1417. O principal motivo para essa separação ter durado tanto tempo foi a disputa de poder entre os vários reinos europeus durante o período. Cada um deles apoiava seu próprio Papa ou Antipapa.

Ademais, curiosamente houve um cisma dentro do próprio Cisma do Oriente. Fornecendo ainda mais drama à tensão papal, surgiu um terceiro Papa em Pisa, na Itália. Após um concílio se reunir na cidade e buscar uma solução para o cenário conflituoso, Alexandre V entrou na disputa pelo poder sobre o catolicismo ocidental no século XV.

Entretanto, o Antipapa eleito no Concílio de Pisa não foi bem recebido pelo povo e permaneceu no posto apenas por um ano. Após sua morte, João XIII foi escolhido como seu sucessor.

O fim do Cisma Ocidental

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Martinho V foi eleito novo Papa e reconhecido por toda a Europa

A situação dos múltiplos Papas só veio a a mudar a partir de 1415. Através do Concílio de Constança, Cardeais se reuniram para solucionar a crise dos três Papas e de suas sedes pontífices. Afinal, a instabilidade religiosa e política na Europa estava atingindo níveis preocupantes.

No fim das contas, nenhum dos três Papas foi legitimado. Enquanto Gregório XII (de Roma) renunciou, João XIII (de Pisa) foi deposto e Bento XVIII (de Avignon) foi excomungado. Assim, em 1417, os católicos ocidentais escolheram um novo representante para sua Igreja.

O Cisma do Ocidente teve fim com a eleição de Martinho V como novo Papa e seu reconhecimento por toda a Europa. Além disso, a sede do pontificado retornou para Roma, onde está até os dias atuais.

E então, o que achou da matéria? Se gostou, confira também: Catolicismo – Origem, história, crenças e curiosidades.

Fontes: Toda Matéria, InfoEscola, Mundo Educação, Ensinar História.

Imagens: Pinterest, Aventuras na História, Mary Novik, Getty Images, Paintingz, Esquire, Arts & Culture.

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